O Dicionário Biográfico de Cinema#259: Bo Widerberg
Bo Widerberg (1930-1997), n. Malmo, Suécia
1961: Pojken och Draken [The Boy and the Kite] (co-dirigido com Jan Troell) (c). 1963: Barnvagnen [The Baby Carriage]; Kvarteret Kopen [Raven's End]. 1965: Karlek 65 [Love 65]. 1966: Heja Roland! [Thirty Times Your Money]. 1967: Elvira Madigan. 1968: Den Vita Sporten [The White Game] (co-dirigido) (d). 1969: Adalen 31 [Dalen Riots]. 1970: Joe Hill [The Ballad of Joe Hill]. 1974: Fimpen [Stubby]. 1976: Mannen pa Taket [The Man on the Roof]. 1979: Victoria. 1983: Grifesten*. 1984: Mannen fram Mallorca [The Man from Majorca]. 1986: Ormen's vag pa Halleberget [The Serpent's Way]. 1988: En Far (TV). 1989: Vildanden (TV). 1990: Hebriana (TV). 1992: Efter Föreställningen (TV). 1995: Lost öch Fägring Stor [Todas as Coisas São Belas].
A combinação do sentencioso e do meretrício na obra de Bo Widerberg mostra a Suécia moderna absorvendo o cinema na arrumação grosseira de sua abrangente social democracia. A vida na Suécia pode ser mais limpa, mais racional e mais institucionalizada contra o sofrimento que em qualquer lugar. O artista então arrisca se tornar um outro engenheiro social, incapaz de escapar das teias da complacência moral e distinção visual auto-complacente. O Bergman de O Sétimo Selo estava correndo o risco de produzir parábolas inertes à adornar casas social-democraticamente regularizadas - mensagens obedientes e insensíveis do apocalipse. Uma vez tendo ultrapassado esta simplificação, Bergman rediscobriu os frutíferos modos suecos de descrever a vida solitária das pessoas, vivendo com suas emoções, consciências e pensamentos por companhia. Os personagens de Widerberg são libertos destes fardos, absolvidos pela gentileza do diretor.
O sucesso que Widerberg desfrutou nos cinemas de arte em todo o mundo era constrangedor, mas suas banais reinvindicações de comprometimento e o recurso sorrateiro ao embelezamento eram típicos de um vazio terrível que poderia facilmente vir a ocupar o centro do cinema "sério". Não é o único expoente de tais opções sofisticadas: Lelouch, Schlesinger, Kubrick e Mike Nichols todos desfrutaram do mesmo sucesso de Elvira Madigan, e foram aclamados por alguns setores por sua novidade e perspicácia.
No caso de Widerberg, houve um rápido amolecimento de sua obra, em consonância com seu sucesso. Originalmente romancista, crítico de cinema e autor de um livro sério, A Visão no Cinema Sueco. Os primeiros dois longas que realizou - The Baby Carriage (**) e Raven's End - foram modestos, mas academicamente promissores. Ambos diziam respeito a jovens de origens opressoras e provincianas, enfrentando a necessidade de romper com tais amarras. Sua fidedignidade social pode ter advindo de conteúdo autobiográfico, mesmo Raven's End sendo ambientado, com grande cuidado, em 1936. Em tema e estilo, nenhum dos filmes excedeu a queda sueca pelo bom gosto, ainda que seja possível se observar em Raven's End temas políticos e pessoais trabalhados juntos. Love 65 foi uma narrativa felliniana de um diretor tendo dificuldades em realizar um filme. A despeito de tal óbvia derivação, não tratou seu objeto demasiado fluentemente.
Elvira Madigan, no entanto, foi um mergulho total na sentimentalidade intelectual, lamentando o trágico encontro de um oficial do exército e uma equilibrista: composições em teleobjetiva implacavelmente graciosas, cores cosméticas, folhagens desfocadas em primeiro plano acariciando um piquenique no prado imaculado e publicitário, um concerto para piano de Mozart, e os intérpretes principais - Pia Degermark e Thommy Berggren - de uma beleza enfraquecedora e sem vigor. É um filme feito sem um traço de humor ou consciência de quão próximo é de uma paródia de uma ilusória arte elevada. Compare-o com Bonnie & Clyde, de Penn, e se passará a observar a compassividade imensamente superior do filme americano. Penn utiliza nossa identificação com o par central como um meio de sondar e perturbar nossas atitudes em relação ao glamour, à violência, ao amor e à justiça social. Somos impelidos a sentir a destrutividade do mundo deles de duas formas contraditórias: eles sangram e a sociedade vacila. Liberdade e ordem estão opostamente confinadas. Mas em Elvira Madigan a discrepância entre o casal e o mundo é artificial e irrelevante.
Quanto a Adalen 31 e Joe Hill, o primeiro foi sobre uma greve ocorrida na Suécia em 1931, e o último uma suposta balada realizada nos Estados Unidos sobre o pai fundador da Interncional Operária do Mundo. Juntos, abordam com uma arrogância fria e pouco atraente a preocupação pela autojustiça moral sueca. Gavin Millar tomou Adalen 31 com uma mordida adequada quando considerou que Widerberg "não está falando para nós, mas delicadamente gritando". Portanto, há um tratamento pegajoso e pitoresco de seus trágicos eventos e o efeito do olhar dominando a mente."Em outras palavras" disse Millar "a cada momento dialético, a esqualidez da ideia é disfarçada por uma irrupção de charme." Widerberg faz a Suécia parecer com uma terra conquistada por invasores de corpos ou conteúdo plácido manufaturado com os relógios cuco de Orson Welles.
Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Cinema. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 2830-32.
N. do E: (*) Não encontrei referência a este título no IMDB e, curiosamente, quando se coloca o título no Google, associado ao seu diretor, apenas emerge referência ao próprio livro de Thomson.
(**), no IMDB com este título; em Thomson The Pram.
Comentários
Postar um comentário