Filme do Dia: Hawaii (2013), Marco Berger

 


Hawaii (Argentina, 2013). Direção, Rot. Original, Montagem e Dir. de arte: Marco Berger. Fotografia: Tomás Pérez Silva. Música: Pedro Irusta. Com: Manuel Vignau, Mateo Chiarino, Luz Palazón, Antonia De Michelis, Manuel Martínez Sobrado.

Martín (Chiarino) é um jovem sem morada, que retorna à Argentina após não possuir mais residência no Uruguai depois da morte da avó que o criou. Ele retorna ao seu local de infância e lá consegue trocados fazendo pequenos serviços aos moradores. Certo dia aproxima-se de Eugenio (Vignau), com quem brincara na infância e hoje possui um sítio que herdou da família, tendo sido comprado por um tio seu. Esse o contrata no dia seguinte e uma proximidade crescente se transforma em amizade, de colorações constantes de tensão sexual. Eugenio escreve um romance sobre uma criança que percebe instintivamente as injustiças e desigualdades do mundo, sendo de uma família de latifundiários. Quando finalmente Martín tenta beijar Eugenio, esse o rechaça, acreditando que se trata de oportunismo por conta dele ter provavelmente visto umas gravuras de nus masculinos que desenhara. Martín abandona a propriedade e deixa uma nuvem de tristeza em Eugenio, que sequer consegue avançar com seu livro. Vasculhando nos objetos de infância em um depósito descobre o slide que Martín se referia aos dois abacaxis. Ele o leva ao local em que Martín costumava se refugiar em meio ao mato. Tempos depois, Martín retorna com o visor de slides e finalmente os entraves se desfazem.

Mesmo abusando do efeito de “retardamento do gozo” sob forma de jogos eróticos em que a tensão sexual, em última instância, é sublimada ou simplesmente não concretizada, até mesmo por não ser outro o motivo de seu filme, Berger consegue construir um universo minimalista raramente apresentado pelo cinema em sua junção do vigor erótico quanto à criação de uma atmosfera propícia ao envolvimento emocional não apenas da dupla mas provavelmente de quem os assiste. Para isso é fundamental o recorte centrado apenas nos dois personagens principais, em um fragmento espacial (e também temporal) relativamente circunscrito e  a utilização um tanto criativa da trilha sonora – onipresente e quase uma muralha sonora excessiva ao princípio, retornando com força somente em outros momentos. Soma-se ao pathos, o fato da dupla ter quase sempre latente o passado que vivenciaram, tão latente quanto o próprio desejo que nutrem um pelo outro, servindo por toda a trama para uma aproximação mas não exatamente, como no final, selando uma ponte para o contato corporal assumido  - que Eugenio apenas arriscara levemente, bêbado e com Martín desacordado. Berger tem uma filmografia exclusivamente voltada não apenas para filmes de forte teor homo-erótico, como para as tensões sexuais existentes entre seus personagens masculinos; aliás dois de seus longas são reuniões de curtas cujo título faz menção ao termo tensão sexual levando a crer que a tensão narrativa de seus filmes, ao contrário da maior parte dos filmes, encontra-se diretamente associada à sexual. Boa parte da força peculiar dessa produção talvez emane igualmente de provavelmente se tratar de uma narrativa com colorações biográficas, sendo que o final curiosamente se apresenta pungente nas duas opções que se apresentam, seja a do amor não concretizado e/ou correspondido (tema do não menos sensível Rosas Selvagens de Techiné), seja a do final feliz. La Noria Cine/Universidad del Cine. 102 minutos.

 

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