Filme do Dia: Lua Negra (1975), Louis Malle
Lua Negra (Black Moon, França/Itália/Al. Ocidental, 1975). Direção: Louis Malle.
Rot. Original: Louis Malle & Ghislain Uhry. Fotografia: Sven
Nykvist. Música: Diego Masson. Montagem: Suzanne Baron. Com: Cathryn Harrison,
Therese Giehse, Joe Dallessandro, Alexandra Stewart.
Lily (Harrison) é uma jovem que foge
de um mundo em que há uma guerra declarada entre homens e mulheres. Há muito
custo ela consegue chegar numa mansão em que irá conviver com situações
bizarras envolvendo uma velha gorda (Giehse) e um casal (Dallesandro e Stwart)
sempre em conflito.
Essa tentativa de realizar um filme de
ficção fora dos padrões do gênero acabou resultando francamente constrangedora
para um cineasta do porte de Malle. Partindo do universo de Lewis Carroll (sua
Lily e uma série de situações são referências ao clássico Alice no País das Maravilhas) e tributário do mestre do surrealismo
no cinema, Buñuel (explicitamente no momento em que Lily toca alguns acordes no
piano de Liebstod, de Wagner,
igualmente utilizado na trilha sonora de Um
Cão Andaluz), o filme é precedido por uma advertência do cineasta para que
não se busque qualquer lógica no que se seguirá e que se procure abandonar aos
sentidos. O resultado final, no entanto, é incompatível com o pedido de Malle
pois o filme, com brevíssimas exceções, visualmente nada possui que estimule
esse abandono. Antes pelo contrário, suas interpretações pífias e nenhum pouco
convincentes (Dallesandro, canastrão como sempre, vivia o auge de sua
popularidade) e seu descaso consciente com qualquer linha narrativa mais
elaborada estão longe de terem o brilho dos primeiros filmes de Buñuel. Sua
saturação de uma proposta de narrativa onírica e recheada de símbolos
psicanalíticos do início ao final acaba neutralizando toda e qualquer pretensão
de ser efetiva, no sentido de que as obras de Buñuel contemporâneas a esse
filme de Malle já há muito haviam demonstrado – o nonsense apenas funciona porque dentro de uma narrativa que segue
sua própria coerência. Tampouco ao dilatar uma proposta que Buñuel efetivou em
curta e, no máximo, média metragem (caso de A Idade do Ouro) e inserido em um contexto estético completamente
outro – foram filmes realizados à época do cinema mudo - o filme consegue
alguma força expressiva, até mesmo porque seu universo hiper-realista soa
grandemente incovincente. Sua precariedade se encontra a anos-luz em comparação
com outra experiência em que o cineasta procurou fugir do realismo estrito – Zazie no Metrô que, com todos seus
excessos, ainda traz algo de interessante. Enquanto Zazie pode ser considerado sua tradução de um conto infantil, esse
aqui poderia ser a tentativa – evidentemente frustrada – de algo semelhante
infanto-juvenil, e, como no filme anterior, incorporando evidentemente
piscadelas ao universo adulto contemporâneo que vai do movimento feminista ao
desbunde lisérgico, referência que tampouco pode ser esquecida em sua atmosfera
alucinatória. Paralelos também podem ser traçados com a obra contemporânea do
realizador inglês Nicholas Roeg. Entre os filmes que conseguiram transcender a
ficção-científica enquanto atrelada meramente às limitações do gênero de forma
bem sucedida se encontram Alphaville (1965), de Godard, Fahrenheit 451 (1966), de Truffaut e Solaris (1972)e Stalker (1979), de Tarkovski.
NEF/Vides Cinematográfica/UFP. 100 minutos.
Comentários
Postar um comentário