Filme do Dia: The Masseurs and a Woman (1938), Hiroshi Shimizu

 


The Masseurs and a Woman (Anma to Onna, Japão, 1938). Direção e Rot. Original Hiroshi Shimizu. Fotografia Masao Saito. Música Senji Itō. Dir. de arte Minoru Esaka. Cenografia Shintarō Mishima. Figurinos Tetsuzō Shibata. Cabelos Sueko Endō . Com: Mieko Takamine, Shin Tokudaiji, Shin’ichi Himori, Jun Yokoyama, Shin Saburi.

Dois massagistas cegos, Toku (Tokudaiji) e Fuku (Himori) vão prestar seus serviços em uma localidade que possui uma concorrida pousada, onde se encontra uma garota solitária de Tóquio (Takamine), por quem Toku se sente atraído. Quem também se sente enlevado pela garota é Shintarō, um homem solteiro de Tóquio que chega na pousada com seu sobrinho. Começa a ocorrer uma onda de furtos, e Toku, temendo que a garota venha a ser presa, pois acredita ser ela a autora, a ajuda a fugir e vem a descobrir que ela está apenas tentando fugir de um patrão ao qual não gosta.

Há uma construção visual verdadeiramente excêntrica em relação a um cinema mais feijão com arroz. É o caso do encontro, ou melhor, da percepção de um dos massagistas cegos, de uma mulher em suas proximidades, trabalhado em vários planos dos dois em uma coreografia algo absurda, no meio de uma rua. E também uma riqueza ocasional de composições. E uma variedade de escolhas que nunca parecemos saber o que se seguirá. Há como um desejo balzaquiano de observar a tudo e a todos que remete ao contemporâneo ocidental Jean Renoir. E um fortalecimento dos momentos de forma pungente. Há  notas cômicas na figura da criança, sempre se sentindo excluída ou preterida quando os adultos de quem já é próximo, como o tio, ou que se aproxima, como o cego, ficam mesmerizados pela mesma garota. Seu caráter de crônica leve do cotidiano é bem menos marcado por uma compreensão social mais direta como a de seus contemporâneos mais lembrados como Ozu ou Mizoguchi. Neste sentido, quase nada há de menção à família tradicional e suas relações e afetos. E este, sem dúvida, é um de seus encantos.  Todos os personagens aqui focados são de algum modo solitários, inclusive o garoto, que mais parece uma representação em tamanho menor de seu tio. Ambos inquietos por motivos diversos vinculados à idade, o tio por se encontrar só, o garoto por não ter uma companhia para brincar. E o mesmo se pode dizer da garota e de Toku. E o quão mais rico e menos sentimental e lugar-comum é este comentário sobre estes personagens do que quase nove décadas após Hollywood traz, por exemplo, com Os Rejeitados.  Fazendo uso contido da música apenas para momentos determinantes, e trazendo sempre efeitos não vistos anteriormente, como é o caso da sucessão de fades a diminuírem o tempo da travessia na ponte, mas não seu efeito melancólico da sensação da perda de contato da garota de Tóquio. E o quanto ele consegue tirar partido do fade enquanto instrumento pictórico e, ao mesmo tempo, dramático, como após a conversa com Toku em um armazém abandonado, ele é utilizado. E também há os elegantes movimentos de câmera,  que parecem de puro deleite de seu realizador e fotógrafo quando deslizam-na por entre os inúmeros aposentos da pousada, observando seus diversos hóspedes a partir da inquietação do garoto. E o que dizer de uma fuga da qual apenas observamos os passos, sobre acordes solenes? E ainda mais da completa ausência de sentimentalismo, há provocar um efeito muito mais duradouro, no momento que o sobrinho anuncia a partida dele e de Shintar, enquanto a garota se encontra próxima de Toku no rio, e quando esta corre atrás apenas consegue ver a carruagem se afastando. Há uma aproximação do naturalismo na forma que se interessa dos corpos e das sensações, como é o caso dos cegos e seus deslocamentos, mas também do sobrinho irritando um deles e depois levando um sopapo sem intenção e chorando e, ainda mais, ao apresentar os corpos no banho, um deles que se pode observar completamente despido, mas de uma forma elegante, pois não se consegue observar seus genitais, pudor que não se estende ao garoto.  Saburi é mais lembrado como o patriarca da fase final de Ozu, em filmes como O Sabor do Chá Verde Sobre o Arroz.|Shochiku. 66 minutos.

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