Filme do Dia: Os Iniciados (2017), John Trengove
Os Iniciados (Inxeba, África do Sul/Alemanha/Holanda, França, 2017). Direção:
John Trengove. Rot. Original: Malusi Bengu, Thando Mgqolozona & John
Trengove. Fotografia: Paul Ozgur. Música: João Orecchia. Montagem: Matthew
Swanepoel. Dir. de arte: Bobby Cardoso & Solly Sithole. Figurinos: Lehasa
Mollohyi. Com: Nakhane Touré, Bongile Montsai, Niza Jay, Thobani Mseleni,
Gabriel Mini, Zwelakhe Mtsaka, Menzeleli Majola, Gamehlile Bovana.
Xolani (Touré),
um operário fabril, parte mais um ano para uma montanha onde ocorrem rituais de
iniciação em que ele será um dos homens responsáveis por um pequeno grupo de
iniciados. Ele aceita a tarefa para agradar o pai do garoto rico, Kwanda (Jay),
que nutre profundo desprezo por toda a situação, mas igualmente para encontrar
o amante Vija (Mantsai), que é casado.
Embora o filme
trabalhe relativamente bem a forte dualidade entre machismo/homofobia por um
lado e homoerotismo a partir da mesma situação, inclusive em um ritual no qual
a genitália masculina é cuidada por outros homens, talvez tropece em uma visão
dual de mundo demasiado esquemática, em que a tradição é unicamente sinônimo de
obscurantismo e as luzes são representadas pelo jovem que vem de uma cultura
citadina, e que o pai alega ao início ter sido “estragado pela mãe”. Soma-se a
isso, uma espécie de tensão triangular que Kwanda representa para o amor
fortuito vivido por Xolani e Vija. Sendo aquele que desmascara a hipocrisia,
dando o nome ao que não é verbalizado e deixando em situação de constrangimento
aqueles que deveriam inicia-lo, numa espécie de inversão de papéis que, no
entanto, é mais sugerida que de fato ocorrida. Além de não ter grande senso
rítmico, apesar das interpretações coerentes e mesmo afiadas – sobretudo a de Touré – o filme não deixa evidente até
que ponto a relação entre os amantes foi de fato rompida e escolhe uma saída
final demasiado fácil, como se o assassinato, mesmo que mais que verossímil em
um universo bastante avesso ao amor entre homens, fosse um meio de não ir além
de tateios vagos na elaboração da tensão que é posta. Sem falar na facilidade
com que os amantes se deixam flagrar, sendo esse observador justamente o
decidido Kwanda. Ao lidar com um ritual vinculado ao povo Xhosa, o filme não
apenas faz do dialeto a sua única forma de expressão verbal, como faz uso de um
elenco no qual todos os atores possuíam experiência direta com o ritual.
Curiosamente Touré é conhecido como romancista e cantor, sendo essa sua
primeira incursão no cinema. Riva Filmproduktion/ZDF/ZDF-Arte/OAK Motion Pictures/Cool Take
Pictures/Deuxieme Ligne Films/Sampek Prod./Edition Salzgeber/Figjam Ent. 88
minutos.
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