Filme do Dia: Peter Pan (1924), Herbert Brenon
Peter Pan (EUA, 1924). Direção:
Herbert Brenon. Rot. Adaptado: Willis Goldbeck, a partir de uma peça de J.M.
Barrie. Fotografia:
James Wong Howe. Cenografia: Edward Smith. Figurinos: Howard Greer. Com: Betty
Bronson, Mary Brian, George Ali, Esther Ralston, Cyril Chadwick, Jack Murphy, Philippe De Lacy, Virginia Brown
Faire, , Anna May Wong, Ernest Torrence, Louis Morrison.
Peter Pan
(Bronson) entra no quarto das crianças da família Darling, cuja babá é ninguém
menos qee uma devotada cadela, Nana (Ali) e com o auxílio da Fada Sininho
(Faire) as leva a Terra do Nunca, onde após momento de diversão, são capturadas
pelos piratas do Capitão Gancho (Torrence). O único a não ser capturado foi
Peter, que vai até o navio, liberta Wendy e trava uma luta de espada, com
auxílio das crianças, contra Gancho e seus piratas. Vitoriosos, partem no
navio, agora alado, de volta à residência dos Darling.
Beneficia-se
enormemente de uma já existente tradição de filmes de fantasia que já remonta a
mais de uma década. Assim a presença central do cão vivido por Ali, remete ao
mesmo charme e simplicidade de adaptações como as de Oz haviam efetivado na
década anterior, em doses módicas. Faz uso de efeitos especiais talentosos como
os da Fada Sininho em sua irrupção como pirilampo pelo quarto das crianças –
esse próprio um primor de bom gosto cenográfico, traduzindo o universo de
fantasia, mas sem carregar na mão, como se no meio termo entre a fábula e a
realidade. Ou ainda a graça da emolução dos voos das personagens. E os momentos
em que Pan ou Wendy dialogam com Sininho – num deles o aposento de Sininho é
entrevisto pela cortina e sua miniatura ao lado de Wendy é observado sem
qualquer elemento na imagem que denuncie mais fortemente a trucagem. Assim como o momento em que Pan varre do chão
as fadinhas recém-caídas. Uma única exceção é o plano isolado de um evidente
barquinho de brinquedo singrando ao luar.
As interpretações, e não apenas dos atores infanto-juvenis, ainda que
nesses esse quesito se torne praticamente caricato, são de uma afetação
teatral. A quantidade de vezes que Bronson, vira o rosto para olhar com
pretensa intensidade para o infinito se torna crescentemente aborrecida. É
curiosa, mas não incomum, a opção de uma atriz para encarnar Peter Pan, vivido
por uma Betty Bronson de carreira irregular após o advento do cinema sonoro,
tendo ficado quase duas décadas afastada do cinema, até um retorno que terá
como destaque O Beijo Amargo (1964),
de Fuller. Se a intenção de escalar uma atriz para o papel se deu pelo medo da
potencial agressividade de um garoto se beijando com Wendy, já que os
personagens trazem uma freudiana relação em que Pan se vê como filho de Wendy, embora
essa o queira como namorado, algo limado evidentemente da animação realizada
pela Disney quase três décadas após, o tiro sai pela culatra para um espectador
de nove décadas após, ao observar em vários momentos as garotas se beijando. É
muito mais provável, no entanto, que a escolha tenha seguido a peça, em que uma
atriz também vivenciou a personagem. O
fato de ser uma adaptação teatral tão pouco é amenizado, dada a extensão de
tempo em que se fica preso ao interior do ambiente doméstico. E, mais que isso,
como uma estrutura tripartite permanece, com sua aderência completa ao espaço
de cada um dos atos. De início, na residência dos Darlings, depois na Terra do
Nunca, no barco de Gancho e um epílogo – bastante longo por sinal, sendo o
enfrentamente com os piratas demasiado breve em termos relativos – que retorna
à residência dos Darlings. Inicia com
cartelas de comentários de advertência de Barrie, autor do texto, com relação aos espectadores necessariamente
se tornarem crianças para apreciaem sua obra. Destaque para o inteligente momento
em que Peter Pan pede diretamente ao público que bata palmas com força para
salvar Sininho, tendo como esperada reação a sua recuperação, provocando um
curioso flerte com uma interatividade que mesmo um tanto determinada, não deixa
de ter seu efeito, principalmente por não ser utilizada em nenhum outro momento
do filme. Assim como para a bela e límpida fotografia do mestre Howe, bastante
preservada do tempo, em início de carreira, tendo já trabalhado anteriormente
com Brenon (A Dançarina Americana).
Aparentemente trata-se da primeira adaptação para o cinema da peça de Barrie,
estreada em 1904. Famous
Players-Lasky Corp. para Paramount Pictures. 105 minutos.
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