Filme do Dia: O Sol Branco do Deserto (1970), Vladimir Motyl
O Sol Branco do Deserto (Beloe Solntse
Pustyni, União Soviética, 1970).
Direção: Vladimir Motyl. Rot. Original: Valentin Ezhov, Rustam
Ibragimbekov & Mark Zakharov. Fotografia: Eduard Rozovski. Música: Isaak
Shvarts. Dir. de arte: Valeri Kostrin & Berta Manevich. Com: Anatoliy
Kuznetsov, Spartak Mishulin, Kakhi Kavsadze, Pavel Luspekayev, Raisa Kurkina,
Tamara Fedotova, Nikolai Godovikov, Galina Luchai.
Quando já se encontra disposto a
retornar para casa, após combater na guerra civil que assolou o território
soviético, um soldado do Exército Vermelho, Sukhov (Kuznetsov) é escolhido para
ser o guardião de um grupo de mulheres que fazem parte do líder guerrilheiro
Abdullah (Kavsadze). Junta-se a ele seu fiel escudeiro, Said (Mishulin), que
salvara da morte ao desenterra-lo das areias do deserto e também o jovem e
inexperiente soldado Petrukha (Godovikov).
Um outro oficial, Vereschagin
(Luspekayev) é convencido a abandonar a tranquila vida que leva com a
esposa, para também se unir ao grupo. Após, muitas peripécias Abdullah é
capturado, mas consegue fugir e mata uma de suas esposas e também Petrukha. Um
combate entre o grupo de Abdullah e os homens de Sukhov se dá ao lado do mar e
de um tanque de petróleo, onde se encontram as esposas remanescentes de
Abdullah. O barco que se encontra próximo da costa com Vereschagin dando
suporte as ações em terra é explodido com a dinamite que carrega. Com a
explosão Abdullah é distraído e Sukhov consegue matá-lo assim como ao último
homem de seu grupo, podendo agora de fato retornar para casa.
Filme de ação completamente embebido
pela mitologia do western – cada um dos heróis é capaz de matar ou se
defender de vários homens ao mesmo tempo, a figura expiatória do jovem
inexperiente e sua morte cruel, a mulher como algo idealizado e doméstico – e
que faz uso apenas de um pequeno gancho histórico, já que é completamente
orientado pelas convenções de gênero. É claro que sobrepostas a essas se
encontram camadas de ideologia nada sutis que tornam o herói soviético um
exemplo civilizatório em contraposição ao bárbaro com o qual guerreia. Mesmo
longe de casa, supõe-se a anos, Sukhov não cede a tentação de ficar com as
mulheres que acreditam agora pertencerem a ele, sendo ainda aquele que as
orienta para casamentos individuais, preferindo recorrer as lembranças
pastorais de sua esposa no campo e as cartas frequentes que escreve a mesma.
Não deixa de ser irônico, numa trama em que o “civilizado” soviético imponha ao
bárbaro que prefere ver suas mulheres mortas à livres, as novas regras do jogo,
que a figura da mulher, em suma, inexista de fato no filme. Ou é considerada
como um coletivo amorfo de um harém, que a determinado momento se expõe
sensualmente ao que acreditam ser seu novo dono ou existe enquanto vaga
lembrança idealizada e doce no encanto resguardado da domesticidade, mas sem
qualquer conflito travado com o herói, sequer mesmo diálogo. Resta a
trivialidade de qualquer filme de ação como tiroteios, explosões, quedas do
alto e qualquer outro equivalente espetacular. Mosfilm. 85 minutos.
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