Filme do Dia: Amarcord (1973) Federico Fellini

 


Amarcord (Amarcord, Itália/França, 1973). Direção: Federico Fellini. Rot. Original: Federico Fellini & Tonino Guerra. Fotografia: Guiseppe Rotunno. Música: Nino Rota. Montagem: Ruggero Mastroianni. Dir. de arte e Figurinos: Danilo Donati. Com: Pupella Maggio, Armando Brancia, Magali Noël, Bruno Zanin, Giuseppe Ianigro, Ciccio Ingrassia, Josiane Tanzilli, Aristide Caporale, Maria Antonietta Beluzzi, Luigi Rossi, Domenico Pertica, Nando Orfei.

Na Rimini dos anos 30, vários tipos são objeto da observação de um um grupo de escolares. Titta (Zanin) é filho do mestre-de-obras  anarquista (Brancia), que acaba sendo humilhado pelos vigilantes fascistas. Sua mãe (Maggio), um exemplo de abnegação, é dona de casa. Seu avô (Ianigro), apesar da idade avançada, não dispensa o vinho e os prazeres da carne. Seu tio por parte de mãe, um fascista com tiques de galã. Seu tio por parte de pai, Teo (Ingrassia), vive recolhido em um hospital para doentes mentais e, no dia em que sai com a família, vai parar em cima de uma árvore, gritando que deseja uma mulher. A mulher sonhada por Titta é a desejada solteirona Gradisca (Noël), cujas fantasias são mais intensas que as experiências reais com a ninfomaníaca Volpina (Tanzilli) ou com a mulher da tabacaria (Beluzzi). Os maiores eventos que a comunidade vivencia no período são a recepção ao líder Mussolini e um passeio de canoa para avistar de perto o monumental transatlântico Rex, orgulho do fascismo. A juventude alegre e inconseqüente de Titta é interrompida, subitamente, pela doença e posterior falecimento da mãe. Pouco tempo depois, Gradisca finalmente encontra um noivo e abandona a pequena cidade.

Com uma narrativa em sketches que por vezes  sai do controle do alter-ego do cineasta, Titta (embora Fellini costumasse advertir que era menos autobiográfico do que a maioria imaginava), o filme é uma jornada visualmente deslumbrante pela “memória afetiva” de seu personagem principal. Seus méritos não são  poucos, indo da direção de arte fortemente influenciada pelo universo das histórias em quadrinhos (como no curta que o cineasta efetivou para Boccaccio 70, entre outros) à trilha magnífica e profundamente atuante de Rota. Destacam-se tanto episódios com um leve tom surrealista, como a aparição de um pavão no meio da neve ou de uma vaca em meio ao nevoeiro quando o irmão de Titta se encaminha para a escola ou simplesmente hilários, como a passagem de um sultão e suas 40 esposas pelo célebre Grande Hotel local e o sucesso inesperado que o feio doceiro faz com as amantes do sultão ou ainda a malfadada experiência erótica de Titta com a mulher da tabacaria. O resultado final, no entanto, é sensivelmente prejudicado por seu tom excessivamente auto-condescendente e centrado em fantasias não menos excessivas sobre o passado, em que o humor folclórico suaviza qualquer possibilidade de evocação mais intensa e conflituosa sobre o delírio nostálgico. Nesse sentido, seu Os Boas Vidas, semelhantemente evocativo do passado em Rimini, mais realista e menos preso aos cacoetes do que se adjetivou como felliniano, como a profunda influência circense, consegue ser mais efetivo. Por outro lado, A Era do Rádio, tributo de Allen que reproduz o modelo do cineasta, igualmente reproduz sua excessiva suavização sentimental do passado. F.C Produzione/PECF. 127 minutos.

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