Filme do Dia: Guerra$ (2005), Luiz Rosemberg Filho
Guerra$ (Brasil, 2005). Direção: Luiz Rosemberg Filho. Rot. Original:
Luiz Rosemberg Filho & Sindoval Aguiar. Fotografia: Renaud Leenhardt.
Montagem: Sidney Olivetti. Com: Olívia Zisman Bolliger
As obsessões desse momento final da carreira do realizador se encontram
muito presentes nesse curta (a guerra, o poder, a dificuldade da humanidade de
lidar com o gozo) e também se refletem em uma postura estética também com
muitas similaridades. Aqui não se faz uso da colagens tão frequentes em sua
produção (em Auschwitz e Desobediência, por exemplo), mas se
encontra presente uma ruptura ao longo da duração do vídeo, que aqui substitui
as imagens de guerras (e da guerra particular brasileira, com tanques do
exército nas favelas) americanas no Iraque e Afeganistão, fazendo uso de
imagens de arquivo, e ao som da célebre Tocata
e Fuga em Ré Menor BWV 565 de Bach a fala de
alguém que apresenta um texto. Novamente uma mulher, novamente um texto de
colarações nietzscheanas, ainda que sem a mesma força de Ingrid Vorzats em Desobediência.
Se a maior parte das críticas parece se endereçar a um viés politicamente
conservador e militarista, tem como fulcro a própria política em si, não
faltando farpas também à esquerda (com “seu eterno stalinismo”). E seja qual
for a proposta política, revolucionária ou conservadora, sempre escapou de
todas “a pequena luz do amor”. Não se pretende maquiar que se trata de um texto
lido, seja pela empostação de quem o lê, seja pela apresentação posterior dela
própria o lendo. E ainda há espaço para uma terceira mutação, em que o rosto
dessa mulher agora é iluminado de forma sempre fragmentada, ocupando o
proscênio de um teatro ou sobre um fundo neutro, sendo seguido por imagens de
um sol se pondo sobre as aguas e um mundo submarino ao som de uma rara versão
cantada da Ouverture n.3 BWV
1068 mais uma vez de Bach. E uma frase de Camus assoma
ao final: “Vivemos num tempo em que os homens, levados por medíocres e ferozes
ideologias, se habituaram a ter vergonha de tudo. Vergonha deles mesmos,
vergonha de serem felizes, de amar e de criar.” Palmares Produções. 23 minutos
e 24 segundos.
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