Filme do Dia: Revezes (1927), Chagas Ribeiro
Revezes (Brasil, 1927). Direção e Rot. Original: Chagas Ribeiro. Fotografia: Horácio de Carvalho. Com: Anísio Moreira, Mariinha Marrocos, Antonio Marrocos, Antonio Pinto, Domingos Gusmão, Lincoln Lima, Ernani Outran.
O filho do
fazendeiro Jacinto, Jayme, é apaixonado de longa data por Célia, que mora na
fazenda do pai, que não visita faz três anos, já que é estudante de agronomia
no Recife. Quando retorna, Célia, envolvida afetivamente com o agricultor
Carlos, pede que ele abandone a fazenda, temendo algum ato violento por parte
de Jayme. Inconformado com a situação, após matutar solitariamente, Jayme espia
Celia e a aborda de forma agressiva. Essa consegue se desvencilhar e corre para
sua casa, fechando a porta. Com a febre aftosa grassando há dois meses, Jacinto
vê-se na iminência da ruína. Uma comitiva de vaqueiros, comandada por Carlos,
tenta alguma resposta de Jacinto, mas são expulsos de sua casa. Jayme, por sua
vez, vai falar com Anselmo que se não fizer com que Célia abandone Carlos, fará
com que ele seja expulso da fazenda. Esse responde que não tem controle sobre o
coração de Célia e não teme suas ameaças. Jayme atira contra Carlos, escondido,
enquanto esse trabalhava. Ao saberem da morte de Carlos, os vaqueiros se
revoltam. No topo da Serra dos Quilombos, Célia reza sobre a tumba de seu amor.
Há
uma aproximação realista bem maior das moradias dos vaqueiros com as de um
sertanejo da época que provavelmente as mais “maquiadas” habitações dos heróis
populares que encarnavam os dramas da companhia mais célebre do Ciclo do
Recife, a Aurora. E há também um menor domínio da linguagem e tempo
cinematográfico, com a enorme quantidade de planos descritivos abertos aliados
a movimentos panorâmicos da câmera. E, conjugado a esse, uma maior dificuldade
de se fazer mais transparente na comunicação de seu enredo. Já as cartelas são
infinitamente mais discretas e anódinas que as dos filmes da Aurora. E existe
igualmente um retrato um tanto inusitado e indireto da proximidade familiar de
colorações incestuosas, quando observa
no irmão a aparição de sua amada, em um surrupio de tiradas contemporâneas de
filmes cômicos hollywoodianos. Uma convenção do cinema mudo que surge aqui com
frequencia é a da ausência de “sonoridade” das aproximações físicas. Assim, o
irmão de Carlos se aproxima dele e de Célia, e eles somente o percebem quando
já se encontra bem próximo. E, mais ainda, Jacinto e Jayme apenas observam a
comitiva de agricultores quando já se encontram na varanda de sua casa. Se é
uma felicidade que a cópia dessa produção tenha sobrevivido, infelizmente
sobreviveu com marcas do tempo muito fortes e incompleta. Destaque para a
caracterização dos mais velhos apenas com uma maquiagem que deixa a face
esbranquiçada, já que os atores que vivenciam os pais de Célia e Carlos possuem
pouca idade mais que a dos atores que interpretam seus filhos. Destaque para a
forma ectoplasmática que o casal amado vem a concretizar o seu amor ao final,
algo que Frank Borzage iria ainda registrar – com bem mais sutileza e
elegância, evidentemente – na história do cinema, de forma pioneiramente
marcante. Para os propósitos dessa produção, no entanto, a sua saída (e os
efeitos conseguidos com ela) se encontra na medida do que assistimos
antes. Olinda-Film. 48 minutos.
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