Filme do Dia: Navalny (2022), Daniel Roher
Navalny (EUA, 2022). Direção Daniel Roher.
Fotografia Niki Walti. Música Marius De Vries, Anna Drubich & Matt
Robertson. Montagem Maya Hawke &
Langdon Page. Dir. de arte Rafael Loβ & Johannes Weckl.
Desinteressante, na linha de Cidadãoquatro,
ao colar nos bastidores de uma persona non grata, como o
personagem-título, documentário a acompanhar os bastidores da repercussão de
suas revelações e movimentações de moradia, tal como no caso de Snowden no
outro documentário. Porém, o que este tipo de documentário suscita, e ainda
mais que o seu equivalente sobre Snowden, é um incomum desejo ou suposição que
se sairia melhor ficcionalizado (o que foi o caso, em relação a Snowden).
Contribuem para tal impressão o formato demasiado conhecido de narrativa e
estética documental e uma certeza demasiado pacífica de heróis e vilões, aqui
em sentido ideológico cruzado em relação a Snowden – enquanto este consegue
asilo na Rússia, aqui Navalny tem que se refugiar fora dela. Seu arqui-inimigo
é ninguém menos que Vladimir Putin. E mesmo indo além do documentário de Laura
Poitras, que observa o impacto das denúncias de Snowden junto a grande mídia,
ao filmar o momento crucial no qual Navalny liga para uma teia de homens contratados
para elimina-lo e consegue, do último deles, uma declaração de praticamente
todo o processo de envenenamento sofrido, assim como de reestabelecimento, este
momento, comemorado silenciosamente por todos que se encontram ao redor e
também por Navalny, emerge como demasiado clichê para suscitar maiores
envolvimentos. Sobretudo, como é o caso, quando não se vivencia na pele a
situação. E quando há todo um lastro ficcional de cenas similares. Será pela
imagem vulgarizar um acontecimento que talvez fosse vivenciado de forma mais
instigante se bem escrito? Ou pelo modo ou desgaste do tempo do que é narrado,
já que documentários como Crise: Por Trás de um Compromisso Presidencial
parecem manter aceso o interesse de acompanhar os bastidores que está tendo um
impacto político? Um dos poucos momentos a fluírem de modo tão interessante
quanto nesse exemplo de produção típica do Cinema Direto dos anos 60 nos
Estados Unidos, é o de jornalistas buscando alguma declaração de Navalny a
instantes do avião aterrissar em solo russo, enquanto ele procura acalmar os
nervos assistindo uma animação em seu laptop. Intercaladas por imagens dos
admiradores dele o esperando para saudá-lo. E, em outro ambiente, o jornalista
investigativo búlgaro Christo Grozev, envolvido no caso de Navalny, acompanha
tenso as imagens da repressão policial aos que se encontram no aeroporto. O
nível de exposição ainda mais elevado do que o de Snowden às imagens se
encontra vinculado a ele próprio ter alcançado boa parte de sua notoriedade
através de gravações para redes sociais, no estilo influenciador. |CNN
Films/HBO Max/Fishbowl Films/Raefilm Studios/Cottage M para Dogwoof. 98
minutos.
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