Filme do Dia: O Inventor da Mocidade (1952), Howard Hawks

 


O Inventor da Mocidade (Monkey Business, EUA, 1952). Direção Howard Hawks. Rot. Original Ben Hecth, Charles Lederer & I.A.L. Diamond, a partir de um argumento de Harry Segall. Fotografia Harry Krasner. Música Leigh Harline. Montagem William B. Murphy. Dir. de arte George Patrick & Lyle R. Wheeler. Cenografia Thomas Little & Walter M. Scott. Figurinos Travilla. Com Cary Grant, Ginger Rogers, Charles Coburn, Marilyn Monroe, Hugh Marlowe, Henri Letondal, Robert Cornthwaite, Larry Keating, Douglas Spencer.

O cientista Barnaby Fulton (Grant) avança em pesquisas laboratoriais. Sem que ele tenha conhecimento, um chimpanzé que se encontra no laboratório vagou pelo mesmo sem acompanhamento e fez algumas travessuras com os tubos de ensaio, depositando parte da fórmula em desenvolvimento por Barnaby com outras no garrafão de água. O próprio Barnaby é o primeiro afetado, não necessitando mais fazer uso dos óculos de grossas lentes,  passando a agir de forma oposta ao seu comportamento habitual, intrépido e impulsivo. Ele compra um carro esporte e sai com sua secretária, Lois Laurel (Monroe) para um dia de diversão e findo o dia, chega exaurido para dormir, chamando atenção da esposa, Edwina (Rogers), pelas marcas de batom no rosto. Sem o saber, Edwina será a próxima a fazer uso da mistura arranjada pelo macaco, retornando mentalmente ao tempo de sua lua-de-mel com  o marido. Enquanto isso, o patrão de Barnaby, Oliver Oxly (Cobrun), pretende extrair vantagens econômicas da pretensa descoberta de seu empregado.

Uma década antes de O Professor Aloprado de Lewis, Hawks já abduzira algo da fórmula que envolve uma personalidade dividida de O Médico e o Monstro para o eixo da comédia, nessa “comédia maluca” tardia. E o faz conseguindo de fato diversão, algo que infelizmente não repetirá com Monroe, agora guindada ao pleno estrelato, um ano após (em Como Agarrar um Milionário). E essa lógica das inversões, tão cara a Hawks, atinge o seu zênite – a seu modo mais subversora que a de um filme da década de longe mais lembrado posteriormente como Quanto Mais Quente Melhor - com Edwina se dirigindo a um bebê como se fosse o marido. Marilyn, mesmo tendo limitada participação na tela, é observada quase sempre pelos olhos de sua “rival”, e chamada por essa pela imagem que a acompanharia pelo resto de seus dias, pin up, ou como predadora sexual, situação posta de forma risível quando Edwina não permite que ela toque no bebê que acredita ser o marido. E o pretexto cômico da ação das drogas sobre o comportamento das personagens trai um penetrante comentário sobre a hipocrisia do casal com alguma quilometragem rodada – o marido tendo um affair relâmpago com uma mulher mais jovem, a esposa evocando separação e um pretendente do passado. E a anarquia do enredo, que possui uma verdadeira carnavalização coletiva próxima do final, parece ser um espelhamento da própria anarquia de sua estrutura narrativa, evasiva em relação aos protocolos tradicionais, com um que de auto-complacência que não deixa de remeter ao cinema mudo – e no Brasil, com as contemporâneas chanchadas – será coincidência que Barnabé Tu es Meu, com um protagonista-título, tenha o mesmo nome do vivido por Grant? - que vão desde o nome da personagem de Monroe, idêntico ao da filha de Stan Laurel, até uma breve evocação ao rinque de patinação de Chaplin, observado de vislumbre e com cores mais realistas, e um outro personagem batizado com o nome do outro integrante da dupla O Gordo e o Magro, Oliver. Destaque para o momento pré-créditos iniciais, em que uma voz (do próprio Hawks) chama a atenção de Grant, afirmando que ele se encontra antecipado. Dito Isso, infelizmente a chama de hilaridade inicial não apenas não se mantém, como arrefece posteriormente, vencida por soluções não tão originais quanto as prévias. Twentieth Century Fox. 93 minutos.

 

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