Filme do Dia: Paixão Selvagem (1946), Jacques Tourneur

 


Paixão Selvagem (Canyon Passage, EUA, 1946). Direção: Jacques Tourneur. Rot. Adaptado: Ernest Pascal, baseado no romance de Ernest Haycox. Fotografia: Edward Cronjager. Música: Hoagy Carmichael. Montagem: Milton Carruth. Dir. de arte: John B. Goodman & Richard H. Riedel. Cenografia: Russell A. Gausman & Leigh Smith. Figurinos: Travis Banton. Com: Dana Andrews, Brian Donlevy, Susan Hayward, Patricia Roc, Ward Bond, Hoagy Carmichael, Lloyd Bridges, Andy Devine, Victor Cutler, Wallace Scott.

Logan Stuart (Andrews) é o herói de um vilarejo nascente em terra indígena em Portland, Oregon, na década de 1850. Regularmente ele faz o transporte de Lucy Overmire (Hayward), pretendida de George Camrose (Donlevy), banqueiro inescrupoloso que gasta boa parte do seu dinheiro e do dinheiro alheio com jogo, sendo um bem sucedido empresário de mulas. Ele, por sua vez,  acaba firmando noivado com a jovem e virginal inglesa Caroline Marsh (Roc). Tendo como principal inimigo Honey Bragg (Bond), o valentão local, humilha-o  com uma surra no saloon local. Tentando afastar Camrose do jogo, Logan empresta-lhe dois mil dólares, que esse gasta, além de assassinar Mack MacIver (Scott), para não ter que saldar uma dívida com o mesmo. O conselho local da cidade decide que ele é culpado, o que é sinônimo de enforcamento, não ouvindo os rogos de Logan para que ele tenha um julgamento de verdade. Bragg assassina uma índia, o que provoca uma revolta dos índios, que massacram vários brancos. Aproveitando a confusão, Logan consegue libertar Camrose. Os brancos conseguem expulsar os índios, deixando primeiro que esses matem com suas próprias mãos Bragg. Caroline Marsh, traumatizada com o massacre de parte da família que lhe acolhera, mesmo assim resolve não mais casar com Logan, preferindo um homem que seja menos nômade, como Vane Blazier (Cutler). Com a morte de Camrose pelas mãos de um dos homens da cidade, Logan se sente desimpedido para se aproximar de vez de seu verdadeiro amor, Lucy.

Esse western prefere se deter sobre as micro-relações privadas em detrimento de uma visão mais geral do tecido social que compõe a comunidade e sua relação com os índios, da mesma forma que seu protagonista não pensa duas vezes antes de pôr em primeiro plano anseios pessoais (a libertação de Camrose, em respeito a Lucy) aos da comunidade. Logan é o próprio retrato da fibra e da perseverança do espírito pioneiro. Uma idealização que o contrapõe a vacilante temeridade dos ingleses, como que anestesiados por uma sociedade já por demais institucionalizada – um dos ingleses afirma que não entende como se pode viver sobre o perigo iminente de um ataque indígena que pode pôr tudo a perder, ao que Logan retruca de que tudo pode ser recontruído; Caroline pretende alguém sedentário e menos aventureiro. Da mesma forma o protagonista se contrapõe aos próprios patriotas de espírito fraco, efeminado, como Camrose, que apenas sonha em viver no luxo de Boston ou Nova York, rouba e é displicente com o amor de Lucy – em uma cena em que incita Logan a demonstrar que sabe beijar melhor que ele a própria noiva, assiste passivamente que o outro a beije. Lucy representa, por outro lado, a companheira perfeita para Logan, indiferente a duração das viagens ou dificuldades que possam ocorrer em seu decorrer, emancipada, ousada e distante da falta de vitalidade de Caroline. O cineasta Tourneur  é mais conhecido pelo seus clássicos filmes de terror que dirigiu para o produtor Val Lewton. Universal. 92 minutos.

 

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