O Dicionário Biográfico de Cinema#67: Stan Laurel & Oliver Hardy
Stan Laurel (Arthur Stanley Jefferson) (1890-1965), n. Ulverston, Inglaterra); e
Oliver Hardy (1892-1957), n. Harlem, Georgia, EUA
Volte-se para Hardy em qualquer ordem alfabética e encontrará: "Ver Stan Laurel". Nos livros de referências, no entanto, o gordo e o magro, foram trocados.
A crítica usualmente cumpriu com essa classificação, assim como relatos de suas relações de trabalho tornam clara a maior contribuição criativa de San Laurel. Aqui, por exemplo, temos Leo McCarey, o direitor mais criativo que se envolveu com qualquer de seus filmes: "[Laurel] foi um dos raros cômicos inteligentes a inventar suas próprias gags. Laurel era incrivelmente talentoso, enquanto Hardy não era. Essa é a chave para a associação Laurel-Hardy. Ao longo de suas vidas (fui um de seus amigos), Laurel insistiu em ganhar o dobro de Hardy. Dizia que era o dobro de bom e importante, escrevendo o roteiro e participando da criação dos filmes, enquanto Hardy era verdadeiramente incapaz de criar nada - era surpreendente que ele sequer encontrasse o seu caminho ao estúdio."
Isso diz muito sobre a química nas telas, ainda que seja somente por ser ele que estraga os planos saborosos de Hardy. Não há muitas dúvidas que, no dia a dia cotidiano, Hardy ficava contente em aparecer e cair na cal. Enquanto que Laurel concebia as piadas, planejava as histórias e era consultado na direção. Nesse caso, deve levar parte da culpa pelas gags infames, histórias ruminantes e ausência de orientação das personagens - todas presentes ao longo de seus filmes. Igualmente, vamos creditar a Stan pelos repentinos espasmos de invenção, como o momento em Swiss Miss [Queijo Suiço] que se desespera para conseguir conhaque de um truculento São Bernardo, consola-se depenando galinhas, somente para que o cachorro pense que o festival de penas se trata de neve e despeje seu conhaque.
Mas o rebaixamento crítico de Hardy é um erro: ele trouxe tal diversidade à humilhação do gordo cheio de ideias pelo esguio simplório. Talvez a invenção tenha sido de McCarey ou de Laurel, mas Hardy lhe emprestou uma maravilhosa dignidade, como um bebê em sofrimento, e testemunhada por McCarey: "[Hardy] interpretava o papel de um maître, que chegava para servir um bolo. Enquanto caminha para a soleira, cai e se encontra ao solo, com a cabeça enterrada no bolo. Gritei para ele: 'Não se mova! Sobretudo não se mova! Permaneça como está, o bolo queimando seu rosto. E por um minuto e meio o público não parava de gargalhar. Hardy permaneceu imóvel, sua cara enfiada no bolo!"
O suficiente para o argumento que Hardy não criava nada. Ao se submeter infinitamente aos desastres, assumiu para si o manto do sofrimento, que sempre rendeu mais risadas do que infelicidade. As gargalhadas dos filmes de o Gordo e o Magro geralmente são provocadas por Hardy ou, mais precisamente, por ele ser confundido pela destrutividade simplória de Laurel. A presença, algumas vezes, é tão criativa quanto ideias. O Gordo e o Magro deveriam estar juntos nos livros de consulta, porque um precisa do outro; é ser uma dupla que os torna divertidos. Trata-se de uma rara façanha, frequentemente reconhecida. Juntos, os Irmãos Marx, eram um pouco ansiosos, com exceção das cenas esmeradamente trabalhadas entre Groucho e Chico. Abbott e Costello provaram o quanto de extra Laurel e Hardy acrescentaram ao esquema gordo/magro. Chaplin, Keaton, Lloyd e Langdon foram essencialmente solitários. O único par humano a se equivaler a Laurel e Hardy, é Hope e Crosby nos filmes Road (*), com o adendo que possuíam a adorável Lamour para discutir. (A dupla inumana - sem rivais na comédia anárquica - é Tom e Jerry).
O gato e o rato vivem em seus próprios mundos, com a ocasional intromissão das pernas de uma empregada, de um buldogue ou de uma bichana fascinante. Mas essas interrupções são raras o suficiente para um antagonismo inescapável entre os dois personagens. O mesmo se aplica a o Gordo e o Magro. Garotas raramente encontram lugar em seu universo. Os rapazes vivem juntos em alojamentos, frequentam-se constantemente um ao outro, esquecidos de estranhos. Não pretendo ser fantasioso ou estragar o divertido com um esfregaço indesejável. Mas a incompatibilidade mútua e confronto físico sugerem uma implicação homossexual de o Gordo e o Magro. Eles precisam um do outro, e a insistente irritação de uma personalidade sobre a outra, são imagens de um casamento-prisão. Em Their First Mistake [Xadrez para Dois] (32, George Marshall), eles "possuem" mesmo uma criança. Nenhum deles é exatamente viril; Laurel é evasivo e afetado como um clown; enquanto Hardy é extravagante como um eunuco. O ponto não precisa ser enfatizado. Mas seus filmes modestamente engraçados envelheceram bem por conta das nuances emocionais em estarem juntos.
Laurel era um comediante de music-hall na Inglaterra que foi aos Estados Unidos em 1910 com Fred Karno. No vaudeville, frequentemente copiou Chaplin e realizou seu primeiro curta em 1918: Nuts in May. Trabalhou no cinema a partir de então, para a Universal, Broncho Billy Anderson e Hal Roach, mas sem se estabelecer a si próprio no competitivo campo da comédia cinematográfica. Hardy ingressou no cinema após ter sido proprietário de um; daí a dolorosa respeitabilidade burguesa a que se agarrou em cada crise. Trabalhava com Larry Semon no início dos anos 20 e então se juntou a Hal Roach. Encontrando-se na mesma companhia. E houve o dia em que Laurel substituiu Hardy em um filme quando o gordo estava doente ou falhou em encontrar o estúdio. Eles atuaram juntos em Slipping Wives e Roach decidiu uni-los: Putting Pants on Phillip (27, Leo McCarey**), foi o primeiro de seus filmes. Foi o período que McCarey dirigiu a maior parte de seus curtas - filmes tais como The Battle of the Century (27); Leave 'em Laughing (28); From Soup to Nuts [Da Sopa à Sobremesa] (28); Early to Bed [Gordo Herdeiro] (28); Two Tars [Marujos Trapalhões] (28); Liberty [A Liberdade] (29); Double Whooppe [O Príncipe Sem Sorte] (29); Bacon Grabbers]; The Perfect Day (29); Night Owls [Gatos Escaldados] (30); The Laurel and Hardy Murder Case [Noite de Paz] (30); Another Fine Mess [Confusão em Profusão] (30); Beau Chumps [Dois Birutas na Legião Estrangeira] (31), e Helpmates [Ajudante Desastrado] (31) (***).
Em 1931, fizeram seu primeiro longa, Pardon Us [Xadrez para Dois] (James Parrott). Gradualmente, seus curtas findaram. McCarey os abandonou, e é possível que as ambições de Laurel tenham excedido suas habilidades. Os curtas são menos imperfeitos pelo tédio e falta de trama. Um curta realizado em 1932, The Music Box [Dois Músicos Desafinados] (Parrott), talvez seja o seu melhor. Seus filmes de longa-metragem foram Pack Up Your Troubles [Procura-se um Avô] (32, Marshall e Raymond McCarey); Fra Diavolo (33, Roach e Charles Rogers); Sons of the Desert [Filhos do Deserto] (33, William A. Seiter); e Babes in Toyland [Era Uma Vez Dois Valentes] (34, Gus Meins e Rogers). Após 1935, não mais realizaram curtas, e concentraram-se nos longas: Bonnie Scotland [Mosqueteiros da Índia] (35, James Horne) e The Bohemian Girl [A Princesa Boêmia] (36, Horne e Rogers). Havia maus presságios agora entre Laurel, Hardy e Roach, com frequentes falas de ruptura. Porém, permaneceram juntos para Our Relations [Sossega Leão] (36, Harry Lachman), que Laurel produziu; Way Out West [Uma Luta de Risos] (37, Horne); Queijo Suíço (38, John G. Blystone); e Blockheads [A Ceia dos Veteranos] (38, Blystone). Por essa época, cortaram sua conexão com a MGM-Hal Roach, após Flying Deuces [Paixonite Aguda] (39, Edward A. Sutherland); A Chump at Oxford [Dois Palermas em Oxford] (40, Alfred Goulding), história proveniente de Harry Langdon; e Saps at Sea [Marujos Improvisados] (40, Gordon Douglas); eles se separaram de Roach.
Os "rapazes" permaneceram juntos e formaram sua própria companhia, mas foram forçados a buscar ajuda da Fox e da MGM: Great Guns [Bucha para Canhão] (41, Monty Banks); A Haunting We Will Go [Dois Fantasmas Vivos] (42, Alfred Werker); Air Raid Wardens [Salve-se Quem Puder] (43, Edward Segwick); Jitterbugs [Ladrão que Rouba Ladrão] (43, Malcolm St. Clair); The Big Noise [A Bomba] (44, St. Clair); Nothing but Trouble [Os Cozinheiros do Rei] (44, Sam Taylor); e The Bullfighters [Toureiros] (45, St. Clair).
Esse foi verdadeiramente o fim, vinte anos antes da morte de Laurel. Realizariam mais um filme, na França, Robinson Crusoeland [A Ilha da Bagunça] (51, Léo Joannon) e Hardy apareceu, sozinho em The Fighting Kentuckian [Estranha Caravana] (49, George Waggner).
Texto: Thomson, David. The Biographical Dictioinary of Film. Nova York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 1519-22.
(*) N. do T.: não há como traduzir esse ciclo de filmes, já que as versões brasileiras não investiram em um termo comum, como o original (Road to).
(**) N. do T.: No imdb, a direção é de Clyde Bruckman.
(***) N do T.: Há uma diversidade de realizadores assinando a direção desses títulos, portanto a afirmação de que McCarey havia dirigido a maior parte deles não procede.
Não mencionou 2 caipiras ladinos e Utopia, último filme.
ResponderExcluirVerdade,
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