Filme do Dia: Brotherhood (2021), Francesco Montagner
Brotherhood (Itália/Rep. Tcheca,
2021). Direção Francesco Montagner. Rot.
Original Francesco Montagner & Alessandro Padovani. Fotografia Prokop
Soucek. Montagem Valentina Cicogna.
Mais que qualquer outra coisa,
surpreende se saber se tratar de um documentário. Não que fosse algo
completamente fora de questão. Mas a forma como é encenado, sua fotografia e
enquadramentos elaborados, seus cortes, tudo parecia apontar para uma ficção de
ritmo lento e despreocupada em esquemas dramáticos convencionais. O que
convenhamos, não falta na produção contemporânea. O que traz uma densidade
maior, aquilo que já fora percebido como um grande valor, ficção ou não: o
afastamento e impenetrabilidade, em última instância, de todos os retratados.
Visto como ficção, teme-se que em algum momento ocorra uma explosão catártica,
agressão ou algo do tipo entre os três irmãos que são designados pelo pai, como
em uma fábula realista, de funções específicas. O mais velho de cuidar dos
outros e arranjar um emprego. O do meio de cuidar do rebanho de ovelhas da
família. O mais jovem de ajudar o do meio e conseguir se destacar nos estudos.
Tudo isso enquanto o pai, que havia feito uma viagem de dez dias a Síria, é
preso por suspeita de confabulação terrorista durante 23 meses. Estamos na
Bósnia. A expressividade dos quatro familiares, vivenciando a si mesmos, é o
que há de mais tocante, nesse documentário grandemente encenado. Com toda a
rigidez que esse pai muçulmano é apresentado – quase sempre com expressão
facial única – e, inclusive, quando o acompanhamos para o que parece ser uma
reencenação de sua prisão, único “desvio” do ponto de vista dos jovens, que
acompanha todo o filme, não se trata de um filme que traga julgamentos morais
etnocêntricos sobre o que filma. Apesar de todo o rigor, percebe-se que as
orientações que endereça aos dois mais velhos são plásticas o suficiente para
dialogarem com as personalidades dos dois. E, do mais jovem, e o mais receptivo
as distrações da modernidade, como o celular, pela ausência maior de rumo ou
imaturidade circunstancial, não se chega a tanto. Quando ele sai e volta a
dialogar com os filhos e efetua uma revisão de seus conselhos, observando que
nenhum dos três havia cumprido suas metas – mesmo o mais apegado aos
ensinamentos do alcorão e mais conformado com sua situação atual, o do meio,
houve uma perda de meia centena de ovelhas -, por exemplo, afirma que o mais
velho deverá tentar a vida na Alemanha, o que era um sonho dele já
compartilhado anteriormente. E fora do esquadro do que é visto, imagina-se que
seja tolerante o suficiente para observar alguns comentários e ações efetuadas
por sua prole, caso tenha assistido o filme, e é bem provável que o tenha.
Trata-se de estreia solo de Montagner em
longa metragem, dividindo o crédito em obra sobre animador italiano Simone
Massa, Animata Resistenza (2014).| Nutprodukce/Nefertiti
Film/RAI Cinema. 97 minutos.
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