Filme do Dia: Still: Ainda Sou Michael J. Fox (2023), David Guggenheim
Still: Ainda
Sou Michael J. Fox (Still, EUA, 2023). Direção Davis Guggenheim. Rot.
Adaptado Michael J. Fox, a partir de livros escritor por ele próprio.
Fotografia Julia Liu, C. Kim Miles & Clair Popkin. Música John Powell.
Montagem Michael Harte. Dir. de arte Matthew Budgeon & Sean Carvajal.
Figurinos Beverley Huynh.
Acentua-se aqui
ainda mais o egocentrismo destinado a documentários envolvendo a aproximação
biográfica de personalidades, embora por um viés original, inclusive na lida
com o material de arquivo e, sobretudo as imagens dos filmes de um ator, aqui
utilizados em diálogos com situações descritas por Fox, somados a encenação de
situações e entrevistas constantes com ele próprio. Caso, por exemplo, dos
difíceis anos iniciais de tentativa de ganhar a vida em Los Angeles. E, como o
próprio título (sobretudo brasileiro) dá pistas, boa parte desta conjunção
biográfica tem como norte o fato conhecido do ator ser vítima acentuada do Mal
de Parkinson. A leitura feita, mais interessante, embora coalhada por uma forma
de positividade de uma irrecuperável perda e supressão de várias possibilidades
básicas de coordenação motora e movência, é a de que a doença lhe puxou para um
senso de realidade do qual se encontrava enormemente afastado, tão tragado se
encontrava por uma das atividades humanas mais repletas de diversas
representações de si, em um interminável jogo de espelhos; neste sentido, pouco
antes havia citado de enfiada a quantidade de capas de revistas de circulação
nacional e participações em programas de entrevistas nas quais não se
reconhecia; e pouco depois, engrossará a lista de espelhamentos com um nada
marginal, o envolvimento com uma atriz a partir de uma situação vivida no
próprio set de filmagens de uma sitcom televisiva, e abordada com imagens e
tudo mais. E declarações de amor mútuo
na série seguidas por fotos do casamento dos atores na “vida real”. Ao mesmo
tempo que apresenta um nível de controle habitual ou até maior das chamadas “biografias
autorizadas”, mesmo quando fala de forma demeritória de si ou apresenta fatos
de sua vida não muito exemplares (a quantidade de acidentes e carros
destruídos, quando aí se encontrava sob responsabilidade econômica do pai), já
que esta produção foi roteirizada por ele próprio, sendo ele seu único
entrevistado, há igualmente esta aproximação de uma parcela da intimidade
geralmente deixada de fora; não há com não evocar aqui paralelos com o mais
prosaico cotidiano de Lindsay Anderson tal como dirigido por ele próprio em IsThat All There Is? Já passa da metade do documentário quando há uma mudança
de tom, a incorporar também cenas de uma pretensa espontaneidade, e escutamos
outras vozes direcionando a nossa visão além da do próprio Fox – por mais que
as cenas soem muito pouco espontâneas. Apenas nos cerca de vinte minutos finais
é que Fox resolve falar mais abertamente, meio que de raspão, das dores e
incômodos que lhe são trazidos pela doença, escapando um tanto da megaestrutura
montada de imagens de seus próprios filmes e de uma dinâmica mais divertida,
como uma couraça. Uma das poucas coisas em comum a emergir, igualmente em seus
minutos finais, além de uma espécie de jornada do herói mais aberta a uns
pequenos comentários sobre momentos de fraqueza como alcoolismo, com um doc bem
mais convencional sobre outro ator representativo de sua geração, I am
Patrick Swayze, foi sua mobilização pública em relação a aumentar os fundos
para a pesquisa da doença. Porém,
efetuada aqui com mais parcimônia, assim como o mesmo vale para a relação com a
sua companheira e família como um todo, saudavelmente quase opacos em sua
representação. Há também a emoção a falar sobre o pai que lhe interrompe a voz,
e que no caso de Swayze lhe provocou lágrimas que seriam, segundo alguns, o
maior pulo para sua carreira, em uma entrevista de grande audiência. |Concordia Studio para Apple TV+.94 minutos.
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