Filme do Dia: Me Chame pelo Seu Nome (2017), Luca Guadagnino
Me Chame pelo Seu Nome (Call Me By Your Name, Itália/França/Brasil/EUA,
2017). Direção: Luca Guadagnino. Rot. Adaptado: James Ivory, a partir do
romance de André Aciman. Fotografia: Sayombhu Mukdeeprom. Montagem: Walter
Fasano. Dir. de arte: Samuel Deshors & Roberta Federico. Cenografia: Muriel
Chinal, Sandro Piccarozzi & Violante Visconti de Modrone. Figurinos: Giulia
Piersanti. Com: Timothée Chalamet, Armie Hammer, Michael Stuhlbarg, Amira
Casar, Esther Garrel, Victoire Du Bois, Vanda Capriolo, Antonio Rimoldi.
Numa vila na
Toscana em 1983, Elio (Chalamet), culto filho de 17 anos de um especialista em
cultura greco-romana, Pearlman (Stuhlbarg), passa suas férias de verão entre
transcrições musicais, leituras e banhos até que a chegada do novo assistente
de seu pai, Oliver (Hammer), desperta-lhe intensamente a curiosidade e o
desejo. Elio, no momento, flerta com a amiga Marzia (Garrel), porém é
completamente tragado pela atração que lhe exerce Oliver, após os primeiros
contatos. Eles vivem uma tórrida paixão e resolvem viajar juntos, ficando um
Elio desconsolado após a partida do amante.
Guadagnino, por
bem ou por mal, resolveu deparar-se com elementos da paixão romântica que
dificilmente conseguem ser traduzidos cinematograficamente ou em qualquer outra
forma de expressão artística, sem que elementos de conflito e dor se
interponham à concretização do mesmo. E, é certo, o trecho menos instigante do
filme é provavelmente o que o casal mais goza da felicidade de se encontrarem
juntos, insipidez essa acentuada por não existir a elaboração empática maior de
cada um dos personagens, sobretudo no caso de Oliver. Soma-se a isso a
utilização de uma trilha de canções melosas, algo nada incomum em dramas
românticos não apenas gays, mas que muitos desses parecem potencializar à
exaustão, e aqui felizmente utilizadas de forma homeopática, poupando-nos da
redundância ou mesmo do desnecessário patético. A inclusão de um casal gay mais
estereotipado ajuda a reforçar a compreensão que predominantemente o cinema
aborda o amor romântico e elevado homossexual com personificações distintas de
um gay de posturas mais “femininas”, a esses quase sempre reservado um papel
mais jocoso. Dito isso, a criação da
atmosfera da época e suas locações fotográficas são primorosas e talvez a
melhor tirada do filme surja menos do casal que do pai, na cena provavelmente
mais tocante, ao consolar o filho com seu próprio testemunho de que nunca
vivera nada tão intenso e, particularmente, no seu comentário sobre o
envelhecimento do corpo provocar também o crescente afastamento das pessoas. Há
uma sutileza quase digna de Rohmer na forma como descreve a aproximação de Elio
de sua namorada de ocasião assim como o desejo e dificuldade de aproximação
desse de Oliver. Guadagnino foi co-roteirista não creditado, enquanto Ivory já
conta no currículo com vários filmes que destacam personagens homossexuais em
um contexto elitizado e habitualmente de época ainda mais distante, caso de
outra adaptação literária, Maurice (1987). Frenesi Film Co./La Cinéfacture/RT Features/Water’s End Prod./M.Y.R.A.
Ent. para Sony Pictures Classics. 132 minutos.
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