Filme do Dia: Beijo Ardente (1926), Henry King

 


Beijo Ardente (The Winning of Barbara Worth, EUA, 1926). Direção: Henry King. Rot. Adaptado: Rupert Hughes & Frances Marion, baseado no romance de Harold Bell Wright. Fotografia: George Barns & Gregg Toland. Música: Ted Henkel. Montagem: Viola Lawrence. Dir. de arte: Carl Oscar Borg. Com: Ronald Colman, Vilma Bánky, Charles Lane, Paul McAllister, Gary Cooper, E.J. Ratcliffe, Clyde Cook, Erwin Connely.


O grande empresário James Greenfield (Ratcliffe) é saudado como a solução para a seca do Colorado, região desértica em que Barbara Worth (Banky) foi adotada por Jefferson (Lane), que a encontrou criança nas mãos da mãe morta pelas condições adversas, falta de água e tempestades de areia. Um dos empregados de Greenfield, Willard Holmes (Colman) se apaixona por Barbara, despertando os ciúmes de Abe Lee (Cooper), que cresceu junto a ela. Aos poucos não apenas Lee, como toda os trabalhadores, dão-se conta que Greenfield é um grande oportunista, que após ter feito uso da força de trabalho deles, pouco se importa com a situação precária em que foi erguida a barragem. Homens de Greenfield, no entanto, semeiam a discórdia a respeito da honestidade de Jefferson Worth, que não paga os trabalhadores por conta dos investidores terem sido alertados em contrário por Greenfield. Atormentado pela rejeição de Barbara, que acredita que ele compactua com os ideais de Greenfield, Willard não apenas consegue um financiador como retorna com o dinheiro numa viagem de 20 horas ao lado de Abe Lee. Ferido, Lee incentiva que Willard continue e esse chega no momento em que a população, amotinada, pretende queimar a cidade. A barragem não consegue represar a força do rio e a população foge desesperada do avanço das águas. Salvos a distancia segura de uma nova cidade, Abe Lee descobre que o amor que Barbara nutre por ele é somente fraternal. Willard, agora sabendo ser digno do amor de Barbara, afirma que voltará para ela assim que o trabalho de contenção do rio esteja terminado.

King já apresenta aqui um dos temas básicos de de boa parte do faroeste: uma comunidade provinciana e de valores autenticamente americanos sofre os reveses e avanços que chegam com a modernidade. Ao contrário do habitual no realizador, não se pode pensar numa polaridade maniqueísta irrestrita aqui, antes no casamento entre os melhores valores dessa América Profunda, no caso Barbara, com os não menos valorosos porta-vozes da face “honesta” dessa modernização, Willard, para que se suceda a transformação final do deserto em jardim. Evocativo de tratamento semelhante em Amor e Ódio na Floresta (1936), de Henry Hathaway. As sequências finais irão  contrapor a um passado inglório de morte e escassez uma verdadeira “terra da fartura”, jardim do éden, repleto de vinheiras, laranjais e cidades emergentes. King prefere amenizar o castigo contra o empresário corrupto e interessado apenas nos próprios lucros, sendo dada uma segunda chance ao mesmo. Depois de se imaginar que o empresário foi uma das primeiras vítimas de sua ganância, levado pela enxurrada ele acaba sendo “redimido” ao final pelas mãos da própria Barbara, que retira toda a lama literal e simbólica e o transforma em aliado de um progresso menos egoísta e mais solidário.  Destaque para as belas cenas e ângulos dos personagens recortados na imensidão do deserto do Nevada no prólogo, filmadas em locação, algo que se encontraria ausente da maior parte da produção cinematográfica americana após o advento do cinema sonoro. A fotografia é do célebre Toland, posteriormente colaborador de realizadores como William Wyler (O Morro dos Ventos Uivantes) e Orson Welles (Cidadão Kane). The Samuel Goldwyn Co. para United Artists. 89 minutos.

Postada originalmente em 04/10/2014

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