Filme do Dia: Um Conto Chinês (2011), Sebástian Borensztein

 


Um Conto Chinês (Un Conto Chino, Argentina, 2011). Direção e Rot. Original: Sebástian Borensztein. Fotografia: Rollo Pulpeiro. Música: Lucio Godoy. Montagem: Pablo Barbieri Carrera & Fernando Pardo. Dir. de arte e Cenogafia: Laura Musso. Com: Ricardo Darín, Ignacio Huang, Muriel Santa Ana, Enric Cambray, Ivan Romanelli, Vivian El Javer, Javier Pinto, Gustavo Comini.

Roberto (Darín), homem de meia-idade e com sintomas de transtorno obsessivo-compulsivo leva sua vida cuidando da loja de parafusos herdada pelo pai e tendo como hobby colecionar histórias excêntricas coletadas de diversos jornais ao redor do mundo, além de cultuar a imagem da mãe morta. Sem dar maior incentivo a mulher que se encontra  interessada em se relacionar com ele, Maria (Santa Ana). Certo dia acaba observando um chinês que foi roubado e jogado de um táxi. Depois dele ter vomitado em seu táxi, Roberto o põe para fora do carro, mas com a chuva torrencial da noite retorna para busca-lo e o aloja. Trata-se de Jun (Huang), imigrante que veio em busca de seu tio, mas cujo endereço tatuado em seu braço, não corresponde mais a sua atual residência. Sem pistas do paradeiro do tio de Jun, Roberto começa a ficar crescentemente irritado com a dificuldade de se comunicar com Jun, que passa a prestar serviços para ele. No dia em que Jun, por quem Maria passa a nutrir afeição, acidentalmente derruba um material e destrói o santuário que Roberto havia criado para honrar sua mãe, ele  o leva ao bairro chinês e o abandona a própria sorte. Quando, arrependido do feito, volta a procura-lo, é vítima de um assalto e salvo pelo próprio Jun. Após diversas tentativas de se livrar do novo amigo, Roberto recebe uma ligação do tio de Jun. Antes de partir, no entanto, um elo forte e uma extrema coincidência reunirá os dois – um dos recortes que Roberto havia colecionado dizia respeito a morte da noiva de Jun. Após a partida de Jun, Roberto, que soubera da partida de Maria para o interior, viaja para encontra-la.

Capaz de proporcionar o riso solto sem muito esforço, algo por si só não exatamente fácil, o filme tira partido da dimensão “histórias mínimas” de base realista que tem nutrido boa parte dos sucessos internacionais do cinema argentino (incluindo o próprio Histórias Mínimas) com uma dimensão fabular, mais próxima talvez do evidente delírio e inconsenquencia de um Amélie Poulan, talvez menos bem acabada. Enquanto a opção fabular fica restrita a interpretação das próprias histórias incríveis que Ricardo coleciona talvez o contraste até seja engenhoso. Quando parte para uma dimensão dramática desnecessária, associando sua história com a da Argentina, através de sua participação na Guerra das Malvinas, apela-se não apenas para um registro que se torna forçoso e de pouco apelo com o restante do filme como servindo igualmente para o habitual cacoete do psicologismo a explicar a afetividade truncada de seu protagonista. Erguendo a ponte para o reencontro da dimensão afetiva se encontra a figura do chinês, observado de forma encantadora menos como ser humano complexo e mais como uma criança perdida. O que ele faz por Roberto também tem seu próprio equivalente no fato de Roberto ter proporcionado o acesso de Jun a seo tio. O contraste cultural e linguístico rende algumas das melhores situações do filme. Pampa Films/Tornasol Films/Telefe/ICO/INCAA para Walt Disney Studios Motion Pictures. 93 minutos.

 

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