Filme do Dia: Pânico nas Ruas (1950), Elia Kazan
Pânico nas Ruas (Panic in the Streets, EUA, 1950). Direção: Elia Kazan. Rot.
Adaptado: Richard Murphy & Daniel Fuchs, baseado nos contos Quarantine e Some Like ´em Cold, de Edna &
Edward Arnhalt. Fotografia: Joseph MacDonald. Música: Alfred Newman.
Montagem: Harmon Jones. Dir. de arte: Maurice Ransford & Lyle R. Wheeler. Cenografia: Thomas
Little & Fred J. Rode. Figurinos: Travilla. Com: Richard Widmark, Paul
Douglas, Barbara Bel Geddes, Jack Palance, Zero Mostel, Dan Riss, Tommy Cook,
Wilson Bourg Jr., Beverly C. Brown.
Dr. Clinton Reed (Widmark), é um
comandante do Serviço de Saúde Pública Americana que se defronta com um
cadáver, vítima de assassinato, que é portador da peste pneumônica, capaz de
provocar a morte em poucas horas. A vítima, um estrangeiro que se encontrava no
submundo portuário de Nova Orleans, foi vítima do implacável rufião Blackie
(Palance) e seus comparsas Raymond Fitch (Mostel) e Poldi (Cook), primo do
morto. Reed busca apoio no Chefe de Polícia da cidade, Tom Warren (Douglas)
que, apesar de receber com extrema frieza e cinismo a proposta de investigação
para encontrar as pessoas que tiveram contato com o morto recentemente, acaba
se engajando de corpo e alma na empreitada. Nos momentos de fraqueza e intenso
cansaço, Reed é consolado pela esposa Nancy (Geddes). Após conseguirem a pista
de Poldi, a terceira vítima da doença, Reed e a polícia chegam no exato momento
em que esse está sendo transferido por Fitch e Blackie da casa de sua avó e é
morto brutalmente como queima de arquivo. Os outros dois homens são capturados
após uma intensa perseguição.
Esse filme de ação noir de certo modo se afasta dos temas
habituais de Kazan, embora o herói liberal prototípico, presente em outros
filmes do cineasta, como no seu primeiro grande sucesso comercial A Luz é para Todos (1947), encontre-se
presente na figura do protagonista que vai muito além das autoridades
constituídas. Porém, o polo de conflito entre o idealismo individual e o
arcaísmo das instituições governamentais, representado na figura do chefe de
polícia, não se mantém por muito tempo. Pelo contrário, em pouco tempo os dois
se tornam cúmplices o suficiente para execrarem, por exemplo, com a imprensa e
tratarem tanto esta como a opinião pública com um nível de autoritarismo e
recusa da transparência no mínimo excessivos. Após o embate inicial, a relação
entre Reed e Warren se transforma num encanto mútuo que amortece seja o ímpeto
liberal do primeiro, que fica menos preocupado com o fim que levou o jornalista
preso que com a possibilidade de seu novo aliado ser prejudicado no futuro,
seja a indolência e o cinismo do segundo. O “enamoramento” de Reed por Warren
pode, no fundo, significar a sua própria simpatia recolhida pela truculência e
conservadorismo que superficialmente abomina no parceiro, enquanto sua relação
com a esposa é presa do igualmente conservador padrão do período, sendo a
mulher não mais que um amparo para o homem descarregar os prazeres e –
principalmente – infortúnios de seu ego. Primeiro filme de Palance, que ainda aparece
nos títulos como Walter Jack Palance. Prêmio Internacional no Festival de
Veneza para Kazan. 20th Century-Fox. 96
minutos.
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