Filme do Dia: Film Noir: Bringing Darkness to Light (2006), Gary Leva
Film Noir: Bringing Darkness to Light (EUA, 2006).
Direção: Gary Leva. Fotografia: Yoram Astrakhan. Montagem: Anne
Erikson.
O maior desafio
de qualquer texto ou filme que se arrisque a tematizar o noir é não apenas a própria imprecisão do termo, talvez mais
derivado, antes de tudo, da própria fruição expectatorial – do tipo “você sabia
quando assistia um” como se refere um dos depoentes – como a dificuldade de
expressar em linguagem escrita ou falada, como é o caso em questão, uma
significância impossível de ser precisada, pois decorre em parte do efeito
quase inefável que um conjunto de situações (estilísticas, conjunturais, de
produção, de recepção) em dezenas e dezenas de produções. A roteirista Carol
Littleton, por exemplo, afirma que o noir
é produto de um sistema de distribuição que exigia os “programas duplos”, nos
quais esse era um complemento do filme A, de maiores recursos de produção, mas quase
sempre menor liberdade criativa, pelos mesmos motivos. Outro ilumina a
distinção entre o noir e os filmes de
gangster dos anos 30, em que no caso daqueles tudo eram objetivos a realizar e
não havia a densidade psicológica daquele, com sua decorrente necessidade de se
efetuar escolhas e as tormentas resultantes das mesmas. O destino parecia traçado de antemão nos filmes de gangster,
enquanto é decidido pelo próprio personagem do noir. São muitas facetas
abordadas que vão das preferências pelas sombras e escuridão, como na a fala de
um dos diretores de fotografia do ciclo, John Alton, que poeticamente afirma,
para justificar o seu fascínio por cenas noturnas, que as coisas mais
importantes na vida acontecem à noite, as uniões amorosas e também os crimes ao
uso do enquadramento em que personagens permanecem em cena em primeiro e
segundo plano como uma alternativa elegante e prática para produções realizadas
muitas vezes em pouco mais de uma semana. E, mais que tudo, as imagens de
muitos filmes referenciais e poucos lembrados, que talvez seja o melhor que
oferece, diante de uma formato televisivo bastante convencional que mescla
cenas dos mesmos (destaque para a beleza e intensidade das composições do rosto
humano de Cidade Tenebrosa e o mesmo
para as cenas noturnas soturnamente sinistras de Mercado Humano, dentre tantos) e de uma música que parece ser a
trilha de um dos próprios filmes noir
atravessando o documentário praticamente do início ao final, surgindo e
desaparecendo aparentemente sem maiores motivações, embora seja um dos itens
discutidos inclusive. Às influências devidas ao Expressionismo Alemão se somam
a antecedência do Realismo Poético francês, também lembrado nas falas. Cenas de Alma
no Lodo (1931), Rua 42 (1933), Anjos de Cara Suja (1938), Heróis Esquecidos (1940), O Homem dos Olhos Esbugalhados (1940), A Carta (1940), Relíquia Macabra (1941), Casablanca (1942), Sangue de Pantera (1942),
Até a Vista, Querida (1944), Curva do Destino (1945), A Mulher Dillinger (1946), A Dama do Lago (1946), Nascido para Matar (1947), Rancor (1947), Amarga Esperança (1948) (habitualmente lembrado, como aqui, por
suas pioneiras tomadas aéreas), Punhos de
Campeão (1949), Cais da Maldição (1949),
Fúria Sanguinária (1949), Mercado Humano (1949), Mortalmente Perigosa (1950), O Segredo das Jóias (1950), Seu Tipo de Mulher (1951), Cinzas Que Queimam (1951), Rumo ao Inferno (1952), Só a Mulher Peca (1952), Cidade Tenebrosa (1953), e mais que todos, do filme mais referido nos depoimentos, Fuga do Passado (1947), de Tourneur. Leva Filmworks. 68 minutos.
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