Filme do Dia: Hit the Road (2021), Panah Panahi

 


Hit the Road (Jaddeh Khaki, Irã, 2021). Direção e Rot. Original Panah Panahi. Fotografia Amin Jafari. Música Peyman Yazdanian. Montagem Amin Etminan & Ashkan Mehri. Com Pantea Panahiha, Hasan Majuni, Rayan Sarlak, Amin Simiar.

Numa viagem em um carro alugado, pai (Majuni), mãe (Panahiha), filho mais velho (Simiar) e criança (Sarlak) se entretem, discutem e se enternecem uns com os outros, assim como com o moribundo cão Jessy, enquanto viajam até um local onde irão acampar, após deixarem o filho mais velho para um secreto e misterioso evento, que provavelmente o levará para além das fronteiras do país.

É com alegria que se percebe que o cinema iraniano consegue demonstrar uma vitalidade que transcenda a dos dramas autorais, esteticamente ousados ou não, com os quais vem recebendo o reconhecimento internacional das décadas prévias ao do lançamento dessa produção. Isso não é dito exatamente como um elogio a essa, uma auto-complacente e paternalista incursão na comédia dramática que é. Não que frequentemente não possua composições de tirar-nos um pouco do lugar-comum de suas situações, como é o caso da beleza de um plano observado a partir de uma discreta inclusão do volante do carro, do campo enevoado, o filho e ocasionalmente o vendedor de peles a serem enquadrados pela moldura tela do cinema/do computador (a depender de onde se assista o mesmo), assim como do pará-brisa do carro de quem a filma. Seguida por outra, no qual observamos a reação da mãe ao jovem vendedor de peles recém-chegado de moto, pelo retrovisor do carro. É lógico que a estética de se enquadrar pelo carro, e as estradas vicinais em meio a morros nos remetem mais a obras de realizadores conterrâneos como Kiarostami que ao 2001, filme dileto do filho mais velho (e também do realizador?), porém trabalhada de forma dessacralizada, mundana, cotidiana, em que uma garrafa, por exemplo, é jogada pela janela do mesmo carro que servira aos primorosos enquadramentos, em meio a paisagem, aparentemente até então destituída de lixo. Ou ainda os longos planos estáticos, por vezes de uma distância segura de apresentar o drama da despedida sem a proximidade de se observar todas as tensões. E se observando de uma vez o cenário e os personagens como em um tabuleiro de jogo, contra o sol e as nuvens ao fundo. Uma boa metáfora para a distância entre a pretensão que move seu realizador e o resultado conseguido se divisa em planos como esse, no qual a beleza da composição, sua duração através da matéria-prima do cinema, que é o tempo, encontram-se a serviço de tão pouco. E não se escapa a uma discreta alusão visual ao filme de Kubrick, transformando a psicodélica passagem pelo buraco negro em uma quase abstração gerada pela terra seca e uniforme sobre qual o carro avança. E ainda pode servir como esteio para a formulações de alegorias sobre a falta de perspectiva de futuro, assim como a não explicação para o filho mais novo do que ocorre com o mais velho, pode ter uma razão diegética, de não entristece-lo, já em vias de perder seu cão, mas também de driblar minimamente a censura. Para aqueles que conseguiram sobreviver a árdua jornada desse road movie, e inclusive a pieguice da cena em que a roupa de dormir do pai, próxima de um casaco de astronauta, junta-se pontinhos que se tornarão estrelas no céu, após ter acolhido seu filhote sobre si, cada um deles coincidindo com um acorde de nota ao piano, fica-se com a impressão que sobra energia cinéfila e falta densidade ao seu jovem diretor, em sua estreia também como produtor e roteirista. JP Prod. para Celuloid Dreams. 93 minutos.

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