Filme: O Fantasma de Yotsuya (1959), Nobuo Nakagawa
O Fantasma de Yotsuya (Tôkaidô
Yotsuya Kaidan, Japão, 1959). Direção Nobuo Nakagawa. Rot. Adaptado
Masayoshi Ônuki & Yoshihiro Yoshikawa, a partir da peça de Nanboku Tsuruya.
Fotografia Tadashi Nishimoto. Música Chumei Watanabe. Montagem Shin Nagata.
Dir. de arte Haruyasu Kurosawa. Com Shigeru Amashi, Noriko Kitazawa, Katsuku
Wakasugi, Shuntarô Emi, RYûzaburô Nakamura, Junko Ikeuchi, Jun Ôtomo, Hiroshi
Hayashi.
Iemon
Tamiya (Amashi) pede ao pai de sua amada, a mãe de sua filha, Iwa (Wakasugi) em
casamento, surgindo repentinamente em meio a travessia desse com um grupo na
floresta. Insultado por este e um amigo dele, assassina ambos e consegue fazer
um trato com uma testemunha dos crimes, Naosuke (Emi), para que este silencie
sobre os crimes, tornando-se parceiro deste em um terceiro crime, o assassinato
de Yomoschichi (Nakamura), noivo de Sode (Kitazawa), para que Naosuke possa
casar com ela. Naosuke propõe a Iemon o assassinato da própria esposa, alegando
ter ela um caso com o massagista Takuetsu (Ôtomo). E Iemon ficaria livre para
casar com a filha de um grande e influente senhor, Ume (Ikeuchi). Iemon pede a
Takuetsu para se tornar amante da esposa, propondo-lhe benefícios. Takuetsu mal
sabe ser vítima de um golpe, pois Iwa foi envenenada pelo marido. Durante o seu
encontro com ela, esta se suicida após observar sua cara deformada pelo veneno,
enquanto Takuetsu é morto por Iemon, podendo alegar traição. Na mesma noite
Iemon casa-se com Ume. E Iemon passa a ser assombrado pelo espectro de Iwa.
Suas visões o levam a matar a recém-esposa, e os pais dela. Iemon vai até o
lago onde jogou os corpos e Naosuke pesca. Quando este sai, leva consigo o
pente de casco de tartaruga de Iwa e Iemon passa a ver os cadáveres dos dois
mortos por ele. Naosuke, após ouvir de Sode sobre o aparecimento dos corpos, vê
serpentes na água onde lava os pés.
Também Sode passa a ver o espectro. Desesperado com as visões, Naosuke
conta tudo a mulher. Sode descobre Yomoschichi se encontrar vivo. Irritado com
a insistência do parceiro de vários crimes Naosuke, Iemon o mata.
O cenário
grandemente estilizado provoca uma organicidade com sua origem teatral. É
curioso como o filme reverte a habitual persona tradicional do samurai não
reconhecido pela sociedade, usualmente observado como nobre em ações e uma
resistência movida pelo ressentimento (um dos casos mais célebres sendo A Nova Saga do Clã Taira, dirigido por Mizoguchi três anos antes deste) em
alguém vil e sem caráter. A vilania de Iemon se manifesta de formas diversas,
como quando indagado pela esposa enferma se casaria imediatamente após uma
eventual morte dela, afirma que casaria instantaneamente com uma mulher rica e
propondo ele mesmo que o massagista se torne amante da esposa, algo impensável
em termos dos códigos hollywoodianos da época. Dois pontos a serem destacados:
1) há uma enorme dificuldade de se acompanhar a história sem se recorrer a uma
sinopse; 2) sua indexação como horror somente pode ser creditada mais de 50
minutos transcorridos, ao contrário de
uma outra produção de quase uma década depois (A Mulher da Neve); porém,
feita esta mudança de chave, a aproximação do gênero, inclusive em termos de
recorrentes aparições fantasmáticas (mais tradicionalmente associadas a culpa)
é bem maior e mais ortodoxa. Uma novidade em uma trama e moralidade bem mais
previsíveis que a produção do final da década seguinte é Sode se juntar a Yomoschichi para o
confronto final entre os do eixo do bem e do mal. E não há qualquer
constrangimento a ser dois contra um, contabilidade esta se levarmos apenas os
adversários terrenos. Destaque para a relativamente bela imagem final, de
melhor gosto que todos os arranjos para expressar o sobrenatural prévios.
Naosuke faz o papel do diabinho que sopra ao ouvido do vilão planos possíveis
(e terríveis) a movimentarem a trama. E se passa a ter um grande desequilíbrio
entre o filme antes e depois dos eventos sobrenaturais, assim como uma sucessão
de mortes por Iemon digna das tragédias shakespearianas, ao menos na
contabilidade. Trata-se da história
sobrenatural mais tradicional do pais, possuindo ao menos sete outras versões
cinematográficas, de 1912 a 2014. |Shintoho Film Dist. Comittee. 76 minutos.
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