Filme do Dia: O Despertar Amargo (1968), Noel Black

 


Despertar Amargo (Pretty Poison, EUA, 1968). Direção Noel Black. Rot. Adaptado Lorenzo Semple Jr., a partir do romance de Stephen Geller. Fotografia David L. Quaid. Montagem William H. Ziegler. Dir. de arte Harold Michelson & Jack Martin Smith. Cenografia: John Mortensen. Figurinos Ann Roth. Com Anthony Perkins, Tuesday Weld, Beverly Garland, John Randolph, Dick O’Neill, Clarice Blackburn, Joseph Bova, Ken Kercheval.

Recém-saído de uma instituição de saúde mental, Dennis Pitt (Perkins), vai trabalhar numa indústria química. A autoridade responsável por ele, Azenauer (Randolph), apenas teme que sua mente demasiado imaginativa o complique. Ele se envolve com uma colegial, Sue Ann (Weld), que acredita em tudo falado por Dennis, que afirma para ela ser agente secreto. A partir de então, alguma destruição e mortes são resultantes dessa efêmera união amorosa.

E o excentrismo avant la scene, em termos de cinema de grande circulação norte-americano, provavelmente é o que chama mais atenção neste filme, mais de meio século após sua realização. De fato, aponta-se para possíveis pistas de ação que não passam de devaneios de alguém que vive no limite da normalidade, o que é o caso do personagem de Perkins – ele próprio, um ator que ficaria marcado inescapavelmente por Psicose e por seus próprios tiques excêntricos. E o seu modo furtivo de se relacionar com os outros personagens, incluindo suas “saídas estratégicas” correndo, chegando a evitar a própria parceira de crimes, são enfatizados. Soma-se a isso uma garota que surpreende, e não apenas por se encontrar nesse papel de garota há mais de uma década, vivido por Weld. E a personagem da sua mãe, que parece derivativa dos tipos de megera a la Aldrich. E tem-se o que seria uma versão precoce, e menos polida, do Veludo Azul, de Lynch. Só que aqui, e mais razoavelmente ao menos nesse aspecto, não se pressupõe a inocência de ninguém, provinciano ou não. Quando se compara a dupla e as mortes que cometem, o então considerado excêntrico Bonnie & Clyde parece extremamente convencional. Tampouco há uma suavização ou acentuação de aspectos simpáticos deles em prol de uma empatia expectatorial – a psicopatia de Sue Ann sequer conta com a ingenuidade doce da figura vivida anos após por Sissy Spacek em Terra de Ninguém. E se o Bates de Perkins apresenta toda sua patologia ao final de Hitchcock, a justificar o que é, Dennis invoca um trauma sexual por ter sido flagrado por uma tia quando realizava algumas brincadeiras sexuais infantis com uma vizinha. Paralelos podem ser traçados com a obra de um contemporâneo de Black, Frank Perry, embora Black tenha enveredado mais pelo universo da tv que propriamente do cinema posteriormente. O Massacre de Chicago, lançado ano anterior e dirigido por Corman, é o filme que é exibido no cinema em que a dupla marca seu primeiro encontro. Interessante perceber um movimento em cinematografias as mais diversas que dispõe da forma radical do assassinato como desfecho trágico para os conflitos geracionais crescentes, caso igualmente do italiano De Punhos Cerrados (1965) e do brasileiro Matou a Família e Foi ao Cinema, lançado no ano seguinte.  Lawrence Thurman/Mollino Prod. para 20th Century Fox. 89 minutos.

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