Filme do Dia: Nostalgia, o Caminho da Perdição (1940), Gustav Ucicky
Nostalgia, O Caminho da Perdição (Der Postmeister, Alemanha, 1940). Direção: Gustav Ucicky. Rot. Adaptado: Gerhard
Manzel, a partir de um conto de Alexander Pushkin. Fotografia: Hans Schneeberger. Música: Willy
Schmidt-Gentner. Montagem: Rudolf Schaad. Dir. de arte: Kurt Herlth &
Werner Schlichting. Figurinos: Alfred Kunz. Com: Heinrich George, Hilde Krahl,
Siegfried Breuer, Hans Holt, Ruth Hellberg, Margit Symo, Erik Frey, Alfred
Neugebauer.
Quando dois capitães
russos da cavalaria chegam a um posto dos correios alemão, um deles se lembra a
história que um colega deles lhe contara. Ele, Minski (Breur) sente-se
fortemente atraído pela bela filha do chefe do posto (George), Dunja (Krahl).
Ele promete casar-se com ela e leva-la à corte de São Petersburgo, o que nunca
ocorre de fato. Chega aos ouvidos do pai de Dunja que essa leva uma vida
dissoluta. Este chega com a intenção de dar uma lição à filha e faz um
escândalo no prédio onde ela mora. Dunja, combinada com o amante Minski, arma
uma encenação de casamento que engana o velho, mas a faz se afastar do homem
que de fato ama, Mitja (Holt). Quando o pai parte, Dunja se desespera, enquanto
o pai pensa que ela é feliz como nunca. Ela se suicida no cômodo ao lado de
onde se encontra Minski, que ainda escuta suas últimas palavras, pedindo que
avise ao pai que ela contraíra uma doença.
Soberbamente
decupado e fotografado, num límpido p&b tendendo fortemente ao branco, essa
trivial fantasia demonstra ser de longe menos carregado de uma moral ideológica
nacional-socialista mal disfarçada, tal como Opfergang (1944) e tantos outros. E em meio a trivialidade,
inclusive, pode-se perceber, ainda que involuntariamente – e Fassbinder
certamente deve ter percebido, pois seu Lola,
possui ecos desse filme – um mapa das estratégias femininas para lidar com um
mundo de códigos impostos por um patriarcalismo hipócrita. O conto de Pushkin
já havia rendido uma versão francesa dois anos antes. Por mais que essa
produção busque se afastar do decadentismo com o qual vem a ser associado
filmes próximos do Realismo Poético francês, como provavelmente fora o caso da
versão francesa, uma melancolia encobre a narrativa e nem todo a ingenuidade
patética e infantilizada de seu protagonista, vivido com bravura por Heinrich
George, pode ofusca-la. Contado através de uma história-moldura por quem se
sabe, após certo tempo, ser Mitja, que joga de forma arrogante algum valor para
que seja rezada uma missa em honra de Dunja, o filme consegue construir um bom
senso atmosférico, auxiliado por suas interpretações e se não chega a competir
com alguns mestres que trabalhavam com temas próximos, como Max Ophüls,
tampouco faz feio em relação às mais interessantes produções do gênero
internacionais. Destaque para a cena em que a cigana dança com os seios à
mostra, liberal mesmo em termos do cinema italiano contemporâneo, onde um seio
ou outro podia ser divisado brevemente. Assim como para um momento em que Dunja
fala com uma tensão histérica tão enrijecida que é impossível não crer que
tenha servido como material para a composição da heroína de outro filme de
Fassbinder, Martha. Copa Mussollini
de Filme Estrangeiro no Festival de Veneza. Wien-Film para UFA. 92 minutos.
Comentários
Postar um comentário