O Dicionário Biográfico de Cinema#151: Kathleen Turner

 



Kathleen Turner, n. Springfield, Missouri, 1954

Srta. Turner possui olhos raivosos. Pensei nisso quando ela apareceu pela primeira vez, em Body Heat [Corpos Ardentes] (81, Lawrence Kasdan). Não importa quanta obrigatoriedade, calor e disponibilidade sua Matty proporcionou neste filme;  seus olhos não alertaram do perigo e da intriga muito inebriantea para Ned Racine? Ela não conseguiu manter a luz de advertência de Femme Fatale fora de seus olhos. Ainda estavam lá, ao final,  bronzeando-se em seu apático paraíso. Poderia ter permanecido em casa e se alimentado de homens fracos para sempre. 

Foi uma estreia notável, uma parte implorando em uma celebração astuta e divertida do desastre masculino. Junto com seus olhos estava uma voz que possuía uma dureza inexplicável - adveio dos anos passados na América Latina, quando seu pai diplomata foi alocado lá? Há uma força na mulher que parecia provável de ganhar vida. Não foi inteiramente confortável. E a carreira tem sido difícil de rastrear. Esteve indiferente, adúltera e com dor de cabeça em The Man with Two Brains [O Médico Erótico] (83, Carl Reiner), e fez o seu melhor como a designer de dia e prostituta à noite em Crimes of Passion [Crimes de Paixão] (84, Ken Russell) e o horrendo A Breed Apart [O Senhor das Águias] (84, Philippe Mora). Então veio um papel de grande contrato de romancista em Romancing the Stone [Tudo por uma Esmeralda] (84, Robert Zemeckis) e The Jewel of the Nile [A Jóia do Nilo] (84, Lewis Teague), onde entrou numa aventura cômica física robusta com um desejo, e consequentemente teve menos tempo para arder.

Em Prizzi's Honor [A Honra do Poderoso Prizzi] (85, John Huston) parecia muito mais como  uma assassina natural e mentirosa - mas foi um esforço árduo tornar a artificial personagem crível e qualquer um teria dificuldade em barrar nossa esperança de que Mae Rose conseguiria mais cenas. Em Peggy Sue Got Married [Peggy Sue - Seu Passado a Espera] (86, Francis Ford Coppola), houve o verdadeiro fardo de ser gentil e doce, sem demasiada ironia, para um diretor que possui parcos registros de mulheres nas telas. Foi também uma substituição tardia para Debra Winger.

Foi à Itália realizar Giulia and Giulia [Júlia e Júlia] (87, Peter del Monte), tentou refazer Rosalind Russell em Switching Channels [Troca de Maridos] (88, Ted Kotcheff), e teve o papel nada atraente da esposa em The Acidental Tourist [O Turista Acidental] (88, Kasdan). Nenhum deles foi tão divertido, ou tão cruel, quanto doar sua voz para Jessica Rabbit em Who Framed Roger Rabbit? [Uma Cilada para Roger Rabbit] (88, Robert Zemeckis) - o tipo de mulher sexy e destruidora de certezas para a qual foi feita. Parece ter saltado ao seu pleno potencial em The War of the Roses [A Guerra dos Roses] (89, Danny DeVito), uma bagunça de filme, mas uma visão incomum da recriminação marital. De repente, era possível imaginar Turner atuando em Strindberg ou Ibsen. Ela adquiriu uma reputação de ser difícil - porém seria difícil ou arriscado esperar que interpretasse uma freira em A Flag for Sunrise, de Robert Stone? Ela possui um poder, uma capacidade de se sentir ultrajada, que provavelmente não será tolerada na América. V.I. Warshawski [Bonita e Perigosa] (91, Jeff Kanew) não responde ao que ela poderia fazer: interpretar uma desleixada mulher durona, apenas entorpece a rara aspereza de Turner. Ela é muito mais supreendente como uma dama cujo fogo se acende. Esta fúria pode até ter deixado-a uma figura ligeiramente divertida, mas vazia. Onde atrizes americanas fortes chegam aos 40, quando há muitas sofisticadas na faixa dos vinte vindo juntas:

Interpretou uma mãe em House of Cards [O Enigma das Cartas] (93, Michael Lassac) e esteve em Undercover Blues [Dois Espiões e um Bebê] (93, Herbert Ross). Nenhum obteve impacto , mas Turner estava em sua personificação corajosa - perversa e recatada - dando músculos cartunesecos à fraca trama de Serial Mom [Mamãe é de Morte] (94, John Waters).

E agora a fúria parecia explicada. Em seus quarenta, Turner foi puxada cada vez mais à televisão e foi desbancada nos créditos. Houve alguns maus filmes, e outros que ninguém viu. O que observamos foi a idade - não uma coisa anti-natural: Naked in New York [Nu em Nova York] (94, Dan Algrant); Leslie's Folly (94), um filme para a TV sobre uma mulher bastante infeliz - dirigido pela própria Turner; Moonlight and Valentino [O Jogo da Verdade] (95, David Anspaugh); A Simple Wish [Um Passe de Mágica] (97, Michael Ritchie); Legalese [Manobras Ilegais] (98, Glenn Jordan); a Rainha da Neve em Stories from My Childhood (98); uma psicóloga maluca educando Baby Geniuses [Bebês Geniais] (99, Bob Clark); The Virgin Suicides [As Virgens Suicidas] (99, Sofia Coppola); Cinderella (00, Beeban Kidron); Prince of Central Park [O Princípe do Central Park] (00, John Leekley); Last of the Wild Chimps (04, David Hamlin).

Em acréscimo, houve uma muita alardeada cena de nudez como Mrs. Robinson no palco em The Graduate e sua piéce de resistànce - o pai de Chandler em Friends. Nas telas fez Marley & Me [Marley & Eu] (08, David Frankel) e Californication  na TV; e The Perfect Family [A Família Perfeita] (12, Anne Renton).

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. N. York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 2678-80.

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