Filme do Dia: Brincando com Fogo (1971), Yasuzô Masumura

 


Brincando com Fogo (Asobi, Japão, 1971). Direção: Yasuzô Masumura. Rot. Adaptado: Masayoshi Imako, Masaharo Ito & Yasuzô Masumura, a partir do romance de Akiyuki Nosaka. Fotografia: Setsuo Kobayashi. Montagem: Tatsuji Nakashizu. Dir. de arte: Shigeo Mano. Com: Keiko Takahashi, Masaaki Daimon, Akemi Negishi, Tokuko Sugiyama, Asao Uchida, Keizô Kani’e.

Jovem operária (Takahashi), que vive em um ambiente familiar opressivo, com o pai alcóolatra e inválido para o trabalho, uma mãe fazendo pequenos bicos e uma irmã tuberculosa acaba se apaixonando por um jovem (Daimon), envolvido com gangues. O jovem ganha uma boa quantia em dinheiro para levar a garota a ter o mesmo destino que outras – ser estuprada pela gangue. Porém, com o dinheiro ele a leva para um hotel de luxo, como combinado, usufrui dos serviços e depois abandona o local. Na manhã seguinte o casal se encontra em um milharal e o jovem faz com que a moça o siga numa difícil e talvez mortal aventura de cruzar um rio.

Aparentemente considerado menor na obra de seu realizador por seu caráter sensacionalista com relação à violência e ao sexo, algo do qual certamente se encontra longe de isento de fato, nem por isso deixa de apresentar o aguçado tino de Masumura para imagens impactantes, que transcendem ocasionalmente o seu apelo sensacionalista mais imediato. O abrupto surgimento, ao final, de seu jovem casal, anônimo, como praticamente todos os personagens, o que ainda deixa mais patente o seu caráter de obra ficcional, no milharal é uma dessas sequências de tirar fôlego. Algo que suas cores fortes, tampouco realistas e sua imagem em tela larga, apenas ressaltam. Entremeado por imagens em flashback, que teimam em apresentar o que aparentemente assoma somente superficialmente nos diálogos dos protagonistas, sendo também as mais carregadas de violência – numa delas o pai da garota espanca sua mãe e insulta a irmã doente, noutra a mãe do jovem se oferece para a gangue ao qual o jovem acabará ingressando e tenta seduzir a ele próprio quando se arrasta ensanguentado para próximo dela, assim como o estupro coletivo testemunhado pelo jovem herói. A sensibilidade diferenciada do mesmo é que o fará, apesar da aparente superfície de brutalidade,  romper com o círculo vicioso de exploração feminina. Destaque para a forma como o próprio cinema popular, de gênero Yakuza, do qual  Masumura, inclusive, assinaria alguns títulos, é uma das referências para a violência do herói. Assim como para momentos menos inspirados, nos quais o cineasta abandona estratégias mais sofisticadas de erotização do corpo masculino ou feminino, de filmes anteriores (tais como A Esposa de Seisaku  ou Manji) para o aberto voyeurismo com que a câmera flagra dos pés a cabeça sua heroína no banho. Daiei Studios para Dainichi-Eihai. 90 minutos.

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