Filme do Dia: O Turista Acidental (1988), Lawrence Kasdan

 


 

O Turista Acidental (The Accidental Tourist, EUA, 1988). Direção Lawrence Kasdan. Rot. Adaptado Lawrence Kasdan & Frank Galatti, a partir do livro de Anne Tyler. Fotografia John Bailey. Música John Williams. Montagem Carol LIttleton. Dir. de arte Bo Welch & Tom Duffield. Cenografia Cricket Rowland. Figurinos Ruth Myers. Com William Hurt, Geena Davis, Kathleen Turner,  Amy Wright, David Ogden Stiers, Ed Begley Jr., Bill Pullman, Robert Hy Gorman.

Macon (Hurt), vive sob o peso do luto, desde a morte de seu filho de sete anos com a esposa, Sarah (Turner). Quando retorna de uma viagem rotineira, vinculada a seu trabalho de escritor de guias de viagens, depara-se com a notícia de separação por parte de Sarah. Os problemas vinculados ao seu cão de estimação, Edward,  levam-no a conhecer a extrovertida dona de um hotel para animais, e também amestradora, Muriel (Davis), visivelmente interessada por ele desde o momento no qual se conhecem. Após um tanto de resistência de Macon, eles passam a se relacionar, não contando com a aceitação de seu irmão, Porter (Stiers), enquanto a irmã, Rose (Wright) se envolve com seu editor, Julian (Pullman), cuja aproximação da família, Macon desconfia ser apenas para zombar de suas excentricidades. No casamento de ambos, Sarah tenta se reaproximar de Macon. E continua a fazê-lo, inclusive se mudando para a casa na qual viveram juntos, pertencente a Rose. Quando os papéis do divórcio chegam, Sarah entra em contato com Macon, achando tudo muito absurdo. Macon viaja para Paris a trabalho. E descobre Muriel no mesmo voo, e hospedada no mesmo hotel. Ela tenta resgatar a relação de ambos, mas é barrada por Macon. Ele passa a ter fortes dores de coluna, e quando vai entrar em contato com Julian, descobre que este seguira o conselho dele, pois quem atende a ligação é Rose, que havia pretendido se separar dele. E Rose acessa Sarah, que surge também no hotel de Macon. Apesar de dormirem juntos, Macon sente não adiantar tentar retornar ao passado, e decide que voltará para os braços de Muriel.

O muito de passadista trazido por esta produção já pode ser percebida em sua primeira dezena de minutos, sobretudo no primeiro momento em que Hurt e Turner contracenam. Não se trata apenas de uma dependência dos diálogos numa década a privilegiar as explosões e efeitos especiais e conquistas sonoras do universo audiovisual. Mas também pela própria qualidade da fotografia, estranhamente similar a de três décadas anteriores, assim como Kathleen Turner – ela própria já um símbolo do retorno ao cinema clássico desde o início de sua carreira com Corpos Ardentes, também com Hurt e também dirigidos por Kasdan – emergir aqui não como uma vamp, mas como figura glacial do alto de sua beleza como Grace Kelly o fora. Ainda que o personagem construído por Hurt seja demasiado rígido em sua transposição das feições obsessivo-compulsivas e também quase virginais, até mesmo para os de Stewart dos tempos de Kelly. E tão rígida é a irritante contraposição a esta rigidez, na figura “leve” e atirada de Muriel. E há os eventuais comentários do Macon de Hurt sobre situações vivenciadas por ele, uma vez mais funcionais. Ou seria melhor definir como esquemáticas? Em seu populismo desenxabido, próximo do universo da auto-ajuda, cabe até um comentário (a seu favor, visual) do quão mais cheios de vida são os moradores do bairro popular, onde reside Muriel, observados discretamente por Macon enquanto dirige. Para um produto que faz uso tão típico da economia narrativa, e sempre a cair para uma luva ao seu protagonista masculino – com exceção da rejeição inicial da esposa, posteriormente descontada em seu retorno a Muriel, e ainda mais extraordinariamente contando com a compreensão da habitualmente possessiva Muriel. Para completar a série de golpes de sorte, que mais parecem a concretização objetiva dos desejos de Macon, Muriel está na calçada quando ele se desloca de táxi para o aeroporto, e apenas sorri para ele, nenhum pouco incomodada com as rejeições seguidas dele em Paris. E aí, soma-se a superação mágica de suas muletas de uma vida inteira, incluindo a pequena maleta de viagens por ele mesmo indicada em seus guias e passando pela ex-mulher e também o filho morto, visualizado uma última vez como o garoto que atende ao taxista, à música agora a pleno vapor de Williams, e c’est la vie, ou melhor, c’est le film. O filme exibido no avião, do qual não temos mais que um breve relance é Viagem Insólita, de Joe Dante. Geena Davis possui bem mais tempo de interpretação que Turner, mesmo sendo creditada em terceiro lugar e tendo vindo a ganhar correspondentemente o Oscar de coadjuvante. |Warner Bros. 121 minutos.

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