Filme do Dia: No Páis das Amazonas (1922), Joaquim Gonçalves de Araújo & Silvino Santos
No País das Amazonas (Brasil, 1922).
Direção e Montagem: Joaquim Gonçalves de Araújo & Silvino Santos. Fotografia: Silvino Santos.
Após os destaques típicos de
referência em um cidade (Manaus, no caso) que seriam fotografados por qualquer
realizador de um travelogue, Santos se esmera em apresentar os tipos mais
salientes da fauna amazônica cujo “aperitivo” é o pobre bicho-preguiça, que se
arrasta pela estrada que está projetada
para ser a Manaus-Rio Branco. São peixes-bois gigantescos e seus cadáveres
estirados nas canoas, jacarés em profusão, andorinhas, um filhote de lontra,
pirarucus, etc. Não se trata apenas de observá-los na natureza, mas sobretudo o
tratamento que lhes dá os pescadores, flagrados a tirarem o couro dos pirarucus
e todos os processos que seguem, observados com um detalhe quase etnográfico.
Ainda com mais atenção se filma o processo de fabrico do maior bem comercial da
Amazônia então, mesmo passado o auge de seu fulgor, a borracha dos seringais. E
a partir do cotidiano de um seringueiro específico, saindo de sua palhoça de
manhã cedo e se despedindo carinhosamente de sua criança, nos braços da esposa.
A seguir se explora algo da cultura dos índios Parintins, segundo a cartela, os
mais valentes da região, porém observados em suas atividades prosaicas do
cotidiano. Segue-se a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Um dos recursos
estilísticos utilizados bastante é o da lenta panorâmica descritiva, seja para
motivos de ordem humana (prédios importantes de Manaus, por exemplo), seja para
motivos naturais, como uma das quatro quedas mais importantes do Rio Madeira.
Um recurso bastante utilizado ao início e que depois praticamente desaparece,
ressurgindo muito depois, é o do belo e efetivo uso de sobreposições rápidas,
em função semelhante a que o corte abrupto terá para a condensação do discurso
jornalístico décadas após, tornando mais dinâmica a descrição das mais diversas
realidades da região, seja a caça de jabotis e patos, aprisionados em um
cercado improvisado, seja os castanheiros a comercializarem os produtos a
partir do barco ou ainda as trabalhadoras em uma fábrica de descascamento do
produto, efetivado em máquinas manuais; aliás, nesse último exemplo, os
realizadores fazem uso de uma bem humorada montagem que traça os paralelos
entre as operárias na fábrica e o macaquinho que utiliza de uma pedra para
descascar a castanha. E num comentário de mal indisfarçado humanismo, uma
cartela alerta para como termina um dia de trabalho nos trópicos, com sua mão
de obra se jogando com gosto na água dos rios. Em meio a fauna e a flora, e sua
utilização pelos processos de trabalho do homem, o índio surge quase como mais
um animal exótico a compor essa fauna. Não há como descartar, evidentemente, um
olhar voyeurístico dos realizadores para o grupo de indígenas completamente
nuas, tendo em vista que sua descrição do grupo masculino foi bem mais recatada
e à distância, em mais uma de suas panorâmicas descritivas. Também já se
anuncia as fronteiras da pecuária na região, com a presença de 200 mil cabeças
de gado em determinado ponto. O último bloco é dedicado, aliás, a ela, com
imagens de gado e vaqueiros em trajetos por vezes arriscados, como na travessia
de um rio. Destaque para a arrojada trilha musical instrumental de viola que
acompanha essa cópia e provoca grande efeito sobre as imagens., produzida para
uma nova versão do filme em 2014. J.G. Araújo Prod. Cinematográficas. 129
minutos.
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