Filme do Dia: Sublet (2020), Eytan Fox
Sublet (Israel/EUA, 2020). Direção
Eytan Fox. Rot. Original Eytan Fox & Itay Segal. Fotografia Daniel Miller. Música Tom Darom & Assa Raviv. Montagem
Nili Feller. Dir. de arte Neta Dror & Eden Ohana. Figurinos Mira Karmely.
Com John Benjamin Hickey, Niv Nissim, Lihi Kornowski, Miki Kam, Peter Spears,
Tamir Ginsbourg, Gabriel Omri Loukas, Shai Fredo.
Um
colunista de viagens do New York Times, Michael (Hickey) reserva um apartamento
de um morador de Tel Aviv, o jovem estudante de cinema Tomer (Nissim), para uma
estadia de cinco dias. Porém, quando chega encontra tudo fora dos padrões, pois
Tomer achava que era o dia seguinte a reserva. Michael pretende ir a um hotel,
mas Tomer o convence a ficar. O companheiro de Michael, David (Spears), possui
planos de adoção de uma criança, que Michael se sente algo traído por não ter
sido avisado de todos os passos. Enquanto a Tomer, esse é convidado por Michael
a permanecer em seu próprio apartamento, a partir da segunda noite, já que ele
tem que improvisar refúgio na casa de amigos. E se torna guia de Michael em Tel
Aviv. As discrepâncias geracionais emergem a todo momento, nos comentários de
Michael sobre o filme de Tomer ou desse sobre o pijama que Michael enverga à
noite. Tomer consegue dissuadir uma vez Michael de ir a um hotel, após ter
chamado um anônimo para sexo, que pretendia que fosse a três, mas que Michael,
após certo tempo observando, refugia-se em seu quarto. E o leva para conhecer
sua mãe, Malka (Kam). Nesse jantar, algo dramático que envolve Michael vem à
tona. Ao retornarem, um vínculo maior entre ambos se cria, e eles passam a
noite juntos. Ao se despedirem, no dia seguinte, no aeroporto, Tomer chora ao
trocarem um abraço.
As
questões potencialmente interessantes que podem ser suscitadas a partir do
filme talvez emerjam a despeito de sua elaboração dramática, demasiado
amarrada a um fim em vista. A seu favor, e talvez igualmente numa leitura a
contrapelo de suas próprias intenções, pode-se relativizar o efeito “superação”
a partir de um contato de não mais que alguns dias, proveniente de um
jornalista acostumado a rodar o mundo e o jovem anfitrião, encarnação perfeita
da desregulamentação do capital no campo afetivo-sexual via aplicativos e
contatos que não passem por qualquer sombra de envolvimento emocional. Há de se
indagar sobre a forma um tanto esquemática que aplica as suas diferenças
geracionais em termos de prática amorosa do mundo gay – e mesmo para alguém que
tivesse um perfil mais conservador e ortodoxo de relacionamento, um intelectual
nova-iorquino estaria assim tão à parte, em seu círculo social, de adeptos ao
aplicativo dentre os da sua geração? Pior ainda, há muito pouco de exposição da
própria cidade de Tel Aviv, para além basicamente de sua pequena faixa de praia
observada, o que demonstra quão marginal é esse elemento do interesse
profissional de Michael para o que de fato interessa ao filme. E, por outro
lado, aposta-se em personagens que trazem subtramas que nada auxiliam no núcleo
e dispendem um tempo que poderia ser realocado para que se edificasse maior
credibilidade no envolvimento dos personagens. Felizmente, há os não ditos que
podem ser compreendidos, que não inflacionam os diálogos. Um deles remete à
Grécia antiga, e o caráter formativo do amor do mais velho pelo jovem, e pistas
de que o que havia tocado Tomer vão nesse sentido, quando afirma que Michael
seria um bom pai, sendo que o jovem foi gerado por inseminação e criado apenas
pela mãe. Porém, uma vez mais se indaga, mesmo circundado fisicamente por
apenas jovens, como não havia descortinado tal inclinação no mundo dos
aplicativos. Será por que esses privilegiam a exposição do físico e da atração
imediata? Pode-se apostar igualmente no reforço de demandas emocionais
inconscientemente jogadas para debaixo do tapete. Como ruíram ou foram abaladas por
aparentemente tão pouco melhor não indagar. Ou deixar de lado o que há de
demasiado estanque na representação de cada um. Em última instância não são
equívocos. O filme traz questões razoáveis, um pouco diminuídas quando apenas
reproduzem o senso comum da afetação intelectual do mais velho e a
inconsequência do mais jovem. Parecem pender para um lado da balança, o do mais
velho. A filmografia de Fox é vinculada ao universo gay de Israel, em filmes
como Delicada Relação, Andando Sobre as Águas e A Bolha. Rabinovich
Fundation/Israel Film Council/YES/Lightricks/Israel Fund for Film Prod. 89
minutos.
Comentários
Postar um comentário