Filme do Dia: Meu Pai (2020), Florian Zeller

 


Meu Pai (The Father, Reino Unido/França, 2020). Direção: Florian Zeller. Rot. Adaptado Christopher Hampton & Florian Zeller, a partir da peça de Zeller. Fotografia Ben Smithhard. Música Ludovico Einaudi. Montagem Yorgos Lamprinos. Dir. de Arte Peter Francis & Astrid Sieben. Cenografia Cathy Featherstone. Figurinos Anna Hopkins. Com Anthony Hopkins, Olivia Colman, Mark Gatiss, Olivia Williams, Imogen Poots, Rufus Sewell, Ayesha Darker, Roman Zeller, Evie Wray.

O idoso Anthony (Hopkins), começa a ficar crescentemente confuso em relação a onde se encontra, e quem são as pessoas que o cercam, sendo que a mais diretamente afetada por sua evolução da doença é sua filha, Anne (Colman).

O filme aplica o que habitualmente havia sido utilizado para transtornos psíquicos ou a ambiguidade dentre esses e fenômenos sobrenaturais (O Bebê de Rosemary, Inverno de Sangue em Veneza) ou enquanto representação de uma mente acometida pela esquizofrenia (Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças) para um processo de demência do personagem. E o faz com virtuosidade, através antes de tudo da montagem, e com o aparecimento de atores distintos para personagens que pretensamente seriam as mesmas como suas maiores armas, além, evidentemente, das virtuosas interpretações de Hopkins, como o acometido, e de Colman, como da filha que sofre com o comportamento crescentemente confuso do pai, e também seus efeitos em relação ao seu companheiro. E fica-se nisso. Consegue traduzir eficientemente os efeitos da doença e os sobressaltos de convivência, inclusive de quem o acompanha profissionalmente, como é o caso das cuidadoras. Em termos de dramaturgia, no entanto, fica a dever, o que nem mesmo toda a vulnerabilidade que Hopkins demonstra em um personagem que é homônimo seu, conseguirá suprir. Seus poucos ambientes traem sua origem teatral, com a montagem como aliada específica do cinema enquanto possibilidade de expressão artística da vida mental. É o que se pode perceber, quando se compara a ele um filme com complexidade e sutilezas de matizes emocionais de  Amor, de Haneke, ao qual talvez até involuntariamente (já que possui como fonte peça do próprio Zeller), faz referência – no momento em que Anne se imagina sufocando com um travesseiro o pai). E, claro que como um ator do porte de Hopkins não se desperdiçaria ao menos uma cena com toque cômico, oriundo da capacidade performática do mesmo, e esse se dá no momento em que o personagem simula uma investida no sapateado para o que seria uma de suas novas cuidadoras. Trademark Films/Cine@/Enbankment Films/F Come Film/Film 4/Viewfinder. 97 minutos.

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