Filme do Dia: O Último Rei da Escócia (2006), Kevin Macdonald

 


O Último Rei da Escócia (The Last King of Scotland, Reino Unido, 2006). Direção: Kevin Macdonald. Rot. Adaptado: Peter Morgan & Jeremy Brock, baseado no livro de Giles Foden. Fotografia: Anthony Dod Mantle. Música: Alex Heffes. Montagem: Justine Wright. Dir. de arte: Michael Carlin, Lynne Huitson & Joanna Stutchbury. Cenografia: Tina Jones. Figurinos: Michael O’ Connor. Com: James McAvoy, Forest Whitaker, Kerry Washington, Gillian Anderson, Simon McBurney, David Oyelowo, Stephen Rwengyezi, Abby Mukiibi Nkaaga.

Após se formar em medicina, o jovem Nicholas Garrigan (McAvoy) escolhe aleatoriamente um país para ir. Vai para Uganda, onde encontra uma situação de um golpe militar recém-perpretrado por Idi Amin (Whitaker). Inicialmente trabalhando com a Dra. Sarah (Anderson), mulher mais velha e casada com que começa a se envolver emocionalmente, Garrigan se vê conclamado a ajudar o novo ditador, após um pequeno acidente sofrido por este. Daí para se tornar o médico particular de Idi Amin e ganhar uma série de regalias é um pulo. Amin faz de Garrigan uma espécie de conselheiro particular. Aos poucos, ele vai se interando do que de fato anda ocorrendo no país. O que lhe alerta é o sumiço do ministro da saúde, Jonah (Rwengyezi). A partir daí a situação se torna cada vez mais tensa entre Garrigan e sua função no país. Situação que fica insuportável de vez quando ele descobre que uma das esposas do ditador, com quem tivera uma relação amorosa, Kay (Washington), foi brutalmente assassinada. Nicholas planeja então envenear Amin, mas o chefe de segurança acaba desconfiando de tudo. Espancado brutalmente, Garrigan consegue embarcar em meio a confusão do episódio no aeroporto de Entebbe, por conta do famoso seqüestro, e da ajuda do médico ugandense Junju (Oyelowo), que logo a seguir é morto.

Macdonald, que já havia utilizado de uma estrutura eminentemente dramática para orientar seu documentário sobre o episódio do massacre dos atletas olímpicos em Munique em Um Dia em Setembro (1999), aqui faz uso dramático conjugado, de forma mais convencional, com alguns eventos históricos. O resultado final, é um tanto canhestro. Em termos imagéticos, por sua banal opção por uma montagem extremamente picotada, típica de produções contemporâneas de idênticas pretensões, tornando-se a imagem completametne refém dos diálogos. Em termos dramáticos, se ainda consegue criar falsas expectativas iniciais de um triângulo amoroso típico que está longe de ser, ao final de contas, o foco do filme, como que demarcando nitidamente sua abordagem mais próxima de eventos que dizem respeito ao mundo da política, tampouco o filme consegue transcender o lugar-comum. Até determinado momento, Nicholas se sente confuso e culpado por trair toda a aparentemente sincera devoção que Idi Amin lhe defere. Porém, o filme cai  na armadilha de tentar unir de alguma forma quase todos os pontos relevantes associados ao reinado de Idi Amin com seu amigo escocês. Mesmo se tratando da adaptação de um livro, em um filme parece que tudo se torna ainda mais inverossímil – numa ditadura ultra-vigiada, como acreditar no envolvimento suicida com uma das esposas do ditador? E o que é pior, não defere a mesma centralidade ao protagonista branco a qualquer africano, praticamente repetindo, com sinal invertido, o mesmo anglocentrismo do cinema clássico. Afinal, além de ficarmos sempre com a perspectiva de Nicholas e sermos impelidos a nos identificarmos com ele, seus medos, dúvidas e decisões, também o temos como força motriz para o sofrimento e morte de todos os negros que se aproxima, seja o ministro da saúde, a esposa do ditador e – de modo auto-sacrificial – o médico que lhe “ressuscita” ao final. Os ingleses, no final de contas, são observados como exceções ilustradas em meio ao reinado de terror e, quando ainda cegos pelo deslumbramento, isso se dá de modo justificável – trata-se de um jovem inexperiente que praticamente “cai de para-quedas” – e a quem não é reservado, evidentemente, o mesmo fim. Num dos poucos momentos do filme conscientes de sua própria lógica perversa, mesmo que involuntariamente, Junju se auto-imola, pois acredita que somente a versão de Garrigan, branco, será ouvida no exterior. Destaque para o tour de force interpretativo de Whitaker. Finaliza com as mesmas imagens do documentário Général Idi Amin Dada: Autoportrait (1974), de Barbet Schroeder, de longe mais interessante. DNA Films/Fox Searhlight Pictures/Cowboy Films/Film4/Scottish Screen/Slate Films/Tatfilm/UK Film Council para 20th  Century-Fox. 121 minutos.

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