O Dicionário Biográfico de Cinema#147: Charles K. Feldman




Charles K. Feldman (Goldman) (1904-1968), n. Nova York

Esta é uma história para ser filmada um dia: por volta de 1930, este belo e bastante desenvolto camarada, Charlie Feldman, encontra a si mesmo em Hollywood. Nasceu órfão, mas conseguiu se educar e se formar em direito, e nos primórdios dos anos 30 forma uma agência, em parceria com Ad Schulberg, a mulher do mulherengo B.P. Schulberg. Como acontece, Ad - uma mulher reconhecida por sua inteligência e gentileza, mais que sua aparência - estava tendo um caso reconfortante com Louis B. Mayer. O Sr. Mayer era temperamentalmente disposto a acabar seu casamento e preparar a forragem nos campos de feno da jovem beleza femimina que comandava. Por exemplo, Jean Howard. Mas ele não se atreve a fazer uma pausa, então Ad é sua quase amante. Mas aí Charlie, que estava tendo uma folia selvagem com a atriz mexicana Raquel Torres, teve uma fantasia com Jean Howard. E foi recíproca. 

Bem, Charlie e Jean se casaram (de 1934 a 1948) e se tornaram figuras sociais de proa em Hollywood, uma posição que Feldman se utilizou para se promover enquanto agente - em particular, representou algumas das pessoas mais interessantes na cidade, como David Selznick, Otto Preminger, Darryl Zanuck e Howard Hawks

Em forma e estilo, portanto, Feldman foi um modelo para uma geração posterior- e é dito que Warren Beatty baseou em grande medida sua persona na de Feldman. Mas não se deve subestimar a habilidade de Feldman. Era um produtor bastante astuto e um amigo galante - e, de alguma maneira, outras mulheres o adoravam. 

Em sua trajetória (geralmente sem créditos em tela), sua mão guiou uma diversidade de projetos: Pittsburgh [Ódio e Paixão] (43, Lewis Seiler); The Spoilers [Indomável] (42, Ray Enright) - foi de agente a produtor de Marlene Dietrich - The Lady is Willing [A Mãe Solteira] (42, Mitchell Leisen). Não foi seu melhor trabalho, talvez, mas um dos momentos mais felizes de sua carreira. Ajudou Sam Spiegel a unir os Tales of Manhattan [Seis Destinos] (42, Julien Duvivier). Foi companheiro de quarto de Orson Welles, e isto o levou a Follow the Boys [Epopeia da Alegria] (44, Edward Sutherland) e mesmo Mcbeth (48), que Feldman vendeu pessoalmente a Herbert Yates. 

Mas o melhor de tudo foi o seu período de To Have and Have Not [Uma Aventura na Martinica] a Red River [Rio Vermelho], com Howard Hawks. (Foi Feldman quem caçou Betty Perske de uma famosa fotografia na Harpeer's Bazaar e acompanhou seu caminho até se tornar Lauren Bacall). Produziu The Strange Affair of Uncle Harry [Caprichos do Destino] (45, Robert Siodmak), e simultaneamente seduziu Ella Raines. De fato, Feldman é um exemplo tão bom  possível de sobreposição entre atividade criativa e romântica quanto se possa encontrar. Unindo-se a Tennessee Williams, esteve em The Glass Menagerie [Algemas de Cristal] (50, Irving Rapper) e A Streetcar Named Desire [Uma Rua Chamada Pecado] (51, Elia Kazan). Também esteve envolvido na filmagem de The Seven Year Itch [O Pecado Mora ao Lado] (54, Billy Wilder). Foi Feldman quem embalou a peça de George Axelrod com Marilyn (uma cliente de Feldman) e Billy Wilder - mas foi Axelrod que se jogou na cama como roteirista. 

Tarde na vida, sentiu-se profundamente apaixonado com uma senhora conhecida como Capucine (uma modelo francesa, também conhecida como Germaine Lefebvre). Resolveu torná-la uma estrela (esta velha versão da traição) e então fez a maior parte de seus filmes: Walk on the Wild Side [Pelos Bairros do Vício] (62, Edward Dmytryk); What's New, Pussycat? [Que é que Há, Gatinha?] (66, Clive Donner) - supostamente é de Feldman o diálogo de abertura no telefone - e Cassino Royale (67).

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. Nova York: Alfred A. Knofp, 2014, pp.859-61. 

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