Diretoras de Cinema#8: Donna Deitch

 


DEITCH, DONNA (1945). A feminista lésbica Donna Deitch tem sido tanto criticada quanto elogiada por sua história de amor lésbico, Desert Hearts (Corações Desertos, 1985), uma inovadora e artisticamente bem sucedida produção independente, que foi um genuíno sucesso de bilheteria. Adaptado de um romance de Jane Rule, Desert of the Heart (1964), Corações Desertos foi uma das primeiras narrativas lésbicas para um público mais amplo, no qual a história de amor central não finda em tragédia. Como Kathi Maio observou: "O mais incrível sobre o filme Corações Desertos é que sobretudo ele tenha sido feito. E não teria sido feito sem a dedicação total de sua produtora e diretora, Donna Deitch." (p. 102) Deitch utilizou sua experiência como documentarista para persuadir os investidores a bancar sua primeira ficção. Em última instância, ela levou diversos anos para assegurar o 1,5 milhão de dólares para produzir Corações Desertos, antes que filmasse um plano do filme. 

Corações Desertos é ambientado nos anos 50. Duas mulheres se apaixonam tendo o contrário ambiente do Oeste Selvagem como pano de fundo. B. Ruby Rich observa que o uso da paisagem americana no filme "constrói um admirável senso de aventura feminina (...) Deitch leva a paisagem para passear, trazendo o tom perfeito da música country-western (...) que preenche a trilha sonora, criando um mundo expandido fora da esfera doméstica, para as mulheres habitá-lo." (p. 72) Corações Desertos assemelha-se, de diversas maneiras, a um melodrama de Douglas Sirk, mas é filmado por uma mulher, e se sente isso. "Penso que definitivamente há um olhar feminino", Deitch comentou para Ally Acker (p. 43). 

Corações Desertos possui todas as armadilhas da iconografia melodramática. Uma mulher   tensa e cerebral é liberta por uma de espírito livre e sensual abertamente lésbica. O filme pode ser considerado demasiado convencional, muito xaroposo, até mesmo bastante previsível para alguns críticos, mas para o estilo de filme hollywoodiano é um grande e trangressor passo dos filmes que tradicionalmente descreviam lésbicas como desviantes que deviam ser punidas. Mandy Merck acuradamente critica a convencionalidade de Corações Desertos, destacando o quanto a narrativa perde de vitalidade em sua adaptação do livro para o filme. Mas, como Merck observa, "por outro lado, a visão feminina é convidada para o local que a teoria feminista de cinema assinala para o espectador masculino: a do olhar voyeur como espetáculo erótico da mulher, desejando ativamente ser seduzida e identificando-se com o sedutor." (p. 382). O filme de Deitch é bem sucedido enquanto produto comercial infundido de iconografia lésbica feminista. 

Donna Deitch é também bastante conhecida por seu pioneiro documentário feminista Woman to Woman (1975). Em 1989, Deitch dirigiu a minissérie The Women of Brewster Place, uma adaptação de um romance de Gloria Naylor sobre sete mulheres afro-americanas, incluindo um casal lésbico. Deitch está consciente sobre os problemas inerentes em juntar-se à máquina hollywoodiana: 

"E é importante que fique verdadeiro para sua própria visão, e é difícil fazê-lo quando mil outras mãos estão em sua obra." (Acker, p. 43)

FILMOGRAFIA SELECIONADA

Berkeley 12 to 1 (1968)
Memorabilia PP1 (1969)
She Was a Visitor (1970)
Portrait (1972)
Woman to Woman (1975)
"For George, Love Donna" (1975)
The Great Wall of Los Angeles (1978)
Corações Desertos (1985)
The Women of Brewster Place (1989)

BIBLIOGRAFIA SELECIONADA

Acker, Ally. Reel Women: Pioneers of the Cinema, 1896 to the Present. Nova York: Continuum, 1993.
Aufderheide, Patricia. "Desert Hearts: An Interview with Donna Deitch." Cineaste. 15.1 (1986), p. 18-9.
Holmlund, Christine. "When Is a Lesbian Not a Lesbian: The Lesbian Continuum and the Mainstream Feminine Film." Camera Obscura 25-26 (January-May 1991): pp. 145-78.
Maio, Kathi. Feminist in the Dark. Freedom, CA: Crossing Press, 1988. 
 Mayne, Judith. The Woman at the Keyhole: Feminism and Women's Cinema. Bloomington: Indiana University Press, 1990.
 Merck, Mandy. "Dessert Hearts." In Queer Looks: Perspectives on Lesbian and Gay Film and Video, (org.) Martha Gever, John Grey son, e Pratibha Parmar, pp. 377-82. New York: Routledge, 1993.
 Quart, Barbara. Women Directors: The Emergence of a New Cinema. New York: Praeger, 1988. 
 Rich, B. Ruby. "Desert Heart." Village Voice (April 8, 1986): p. 72. 
 Weiss, Andrea. "From the Margins: New Images of Gays in the Cinema." Cineaste 15.1 (1986): pp. 4-8.

Texto: Foster, Gwendolyn Audrey. Women Film Directors - An International Bio-Critical Dictionary. Westport/Londres: Greenwood, 1995, pp. 107-8.

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