Filme do Dia: A Luz é para Todos (1947), Elia Kazan
A Luz é para Todos (Gentleman´s
Agreement, EUA, 1947). Direção: Elia Kazan. Rot. Adaptado: Moss
Hart, baseado no romance de Laura Z. Hobson. Fotografia: Arthur C. Miller. Música:
Alfred Newman. Montagem: Harmon Jones. Dir. de arte: Mark-Lee Kirk & Lyle
R. Wheeler. Cenografia: Paul S. Fox
& Thomas Little. Figurinos: Kay Nelson. Com: Gregory Peck, Doroth McGuire, John Garfield,
Celest Holm, Anne Revere, June Havoc, Albert Dekker, Jane Wyatt, Dean
Stockwell, Sam Jaffe.
Phil Green (Peck) é um jornalista da
província que é convidado para trabalhar para uma grande revista nova-iorquina,
que possui como uma de suas editoras, Kathy Lacey (McGuire). Atraída à primeira
vista por Green, Kathy lhe sugere que escreva um artigo sobre a discriminação
dos judeus na sociedade americana. Dividindo o apartamento com a mãe cardíaca
(Revere) e o filho pequeno Tommy (Stockwell), o viúvo Green irá matutar sobre
muitas idéias que não levará para frente até ter o lampejo de que deve, como em
outras matérias que escreveu, incorporar o papel do judeu para vivenciar na
pele o preconceito. A farsa, considerada genial pelos poucos que dela
compartilham, logo mostra suas conseqüências: a humilhação de Tommy pelos
colegas e a instabilidade emocional de Kathy que, preparando-se para casar com
Phil, decide mudar de idéia. A chegada do amigo judeu David Goldman (Garfield)
e de sua noiva apenas reforça a cruzada de Phil que passa por humilhações, como
ser rejeitado em um hotel. Quando tudo parecia perdido, Kathy se conscientiza
de que deve não apenas se posicionar intimamente contra, como demonstrar
publicamente seu repúdio ao preconceito e Phil entrega seu artigo da
experiência de seis meses como judeu, voltando às boas com Kathy.
Filme que pode ser considerado um dos
primeiros a fugir do perfil dos “filmes de gênero” do período das três décadas
anteriores e discutir temas polêmicos da sociedade americana, sob o prisma
liberal, que tornar-se-á uma das vertentes mais exploradas, mais aberta ou veladamente, pelo cinema
americano na década seguinte, com temas como o racismo (Sementes da Violência), homossexualidade (Gata em Teto de Zinco Quente, Chá
e Simpatia) e a dependência de drogas (O Homem do Braço de Ouro). Porém, será prejudicado por não utilizar, sob
influência do neorrealismo italiano, as locações naturais e um enredo mais
complexo e menos esquemático na transmissão de seus ideais, como nos filmes
posteriores do cineasta. Acaba aproximando-se
mais dos igualmente explícitos “filmes de mensagem” do cineasta Stanley Kramer. Assim, o tom grandemente altruísta que Phil vivencia todos os
padecimentos, discutindo empolgadamente com sua namorada ou secretária ou ainda
a profissão de fé de sua mãe de que viverá o suficiente para ver a situação modificada
e mais conforme aos princípios morais americanos soam excessivamente forçadas.
O título original faz referência ao “acordo de cavalheiros” hipócrita que
exclui os judeus socialmente, de uma forma camuflada. Produzido pelo célebre
Darryl Zanuck, que foi pressionado para desistir da idéia por parte dos chefes
de outros estúdios, em sua maioria judeus, que preferiam não tocar na polêmica.
O roteirista Hart acabaria tornando-se um dos alvos da Comissão de Atividades
Anti-Americanas, com o qual o próprio Kazan iria colaborar. National Film Registry em 2017. 20th Century-Fox. 118 minutos.
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