Filme do Dia: As Quatro Faces do Medo (1965), Masaki Kobayashi
As Quatro Faces do Medo (Kaidan, Japão, 1965). Direção: Masaki
Kobayashi. Rot. Adaptado: Yôko Mizuki, baseado no livro de Lafcadio Hearn.
Fotografia: Yoshio Myiajima. Música: Tôro Takemitsu. Montagem: Hisashi Sagara.
Dir. de arte: Jusho Toda. Com: Rentaro
Mikuni, Michiyo Aratama, Misako Watanabe, Tatsuya Nakadai, Keiko Kishi, Katsuo
Nakamura, Osamu Takizawa, Kanemon Nakamura, Yûko Mochizuki.
Madeixas Negras.
Um samurai falido (Mikuni) abandona sua esposa fiel e doce (Aratama) para se
casar com a filha de uma família rica (Watanabe), de quem acaba não gostando e
achando orgulhosa e egoísta. Acreditando que havia sido um ato impensado da
juventude, após muitos anos decide retornar à primeira esposa e possui uma
surpresa desagradável, após a acolhida inicial. A Mulher da Neve. Jovem
e velho carregadores de madeira acabam se abrigando em uma velha cabana da
intensa tempestada de neve. Lá recebem a visita de uma entidade fantasmagórica
(Nakadai). O velho morre, mas ao jovem, Yuki (Kishi), ela trata por um longo
tempo até que reestabeleça sua saúde. Ela afirma que ele jamais deve comentar
sobre sua aparição. Anos depois Yuki casa com uma jovem que visita a casa de
sua mãe (Mochizuki) e tem filhos. Certo dia, decide lhe revelar a história que
vivenciara no passado e possui uma surpresa inesperada. Hoichi sem orelhas.
Hoichi (Katsuo Nakamura) é um jovem cego que vai morar em um monastério. Lá
passa a ter visitas de um espectro que o leva para apresentar seus dotes
musicais e de narrador para toda uma corte imperial já desaparecida. Sua
narrativa diz respeito justamente a luta entre dois clãs samurais. Os outros
moradores do monastério começam a ficar intrigados com seu sumiço à noite e
decidem segui-lo. Quando sabe de tudo, o líder do mosteiro afirma para Hoichi
que ele voltará a ser tentado pelo espírito nessa noite e ele deverá responder seus apelos. Todo o seu corpo
é coberto de inscrições sagradas, porém uma parte acaba sendo esquecida. A
Xícara de Chá. Um samurai (Kanemon Nakamura) observa o espírito de um
samurai do passado em sua xícara de chá. Esse espírito passa a desafiá-lo para
o combate.
Kobayashi, no auge de sua carreira,
afasta-se de um formato mais convencional de narrativa, tal como disposta em Harakiri (1962) e investe numa
adaptação de quatro contos do renomado escritor nascido na Grécia e
naturalizado japonês Lafcadio. Todos os contos, alguns de viés autobiográfico,
possuem uma dimensão fantástica talvez devedora de tradições japonesas
incorporadas pelo escritor em sua obra e o filme consegue, em maior ou menor
grau, representar tal universo misterioso sem apelar para armadilhas do
grotesco. O resultado final, é sem dúvida mais instigante por sua evocação de
um universo narrativo próximo dos contos folclóricos que pela dimensão sombria
em si, sendo irregular e não tão atraente quanto seus projetos mais convencionais.
Com uma direção de arte não menos que exuberante, ressaltada por sua fotografia
em cores, sobretudo no episódio mais
longo e plenamente desenvolvido, Hoichi.
Em alguns episódios é bastante destacado o papel de um narrador dentro da
narrativa, seja Hoichi narrando, sob forma de baladas (belamente musicadas pelo
habitual colaborador de Kobayashi, Takemitsu), e com a presença de coloridas
gravuras que o visual do filme pretende recriar, seja o escritor que narra o
último conto. Porém, a elaboração visual dos contos, por mais eficaz que seja,
não consegue criar o mesmo elo e interesse de suas narrativas mais realistas,
tais como Harakiri e Rebelião (1967). A versão americana,
reduzida para três episódios, conta com pouco mais de 120 minutos. Grande
Prêmio do Júri no Festival de Cannes. Toho. 163 minutos.
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