Filme do Dia: Moulin Rouge (1928), E.A. Dupont

 


Moulin Rouge (Reino Unido, 1928). Direção e Rot. Original: E.A. Dupont. Fotografia: Werner Brandes. Montagem: Harry Chandlee. Dir. de arte: Alfred Junge. Cenografia: Ludwig Kainer. Com: Olga Tschechowa, Eve Gray, Jean Bradin, Georges Tréville, Marcel Vibert, Blanche Bernis, Ellen Pollock.

O aristocrata André (Bradin) encontra-se aparentemente apaixonado por Margaret (Gray), contra a vontade de seu pai (Tréville). Um dos motivos para a desaprovação paternal tem a ver com Margaret ser filha de uma atriz, Parysia (Tsechechowa), que se apresenta em números de dança no célebre clube noturno Moulin Rouge. A própria Parysia vai interceder pela filha junto ao palácio onde mora o velho que, condoído com sua tristeza, muda de ideia e aceita que o filho despose Margaret. Esse, no entanto, encontra-se apaixonado não pela filha, mas pela mãe. Disposto a dar um fim em si próprio, André passa mal e Margaret é quem dirige seu carro, com freios propositalmente desregulados, até o palácio do futuro sogro. Parysia lhe pede que salve sua filha e se suicide. Esse não se encontra e Margaret é alertada pelo mordomo que deve ter bastante cautela com o carro em tais condições. André já a alertara que não desejava que ela viajasse com ele por conta dos riscos da estrada.

O ambiente estimulante aos sentidos que remonta à célebre casa de espetáculos parisiense gerou alguns títulos homônimos ao longo da história do cinema (e “versões” que acentuavam as cores e a biografia um tanto romanceada de Toulouse-Lautrec com Huston nos anos 50, ou a pós-modernidade rapineira de um Baz Luhrman nos ido do século XXI), embora aqui o realizador de um momento tão igualmente reverenciado pela história (e pela história do cinema igualmente) que foi o da República de Weimar não se detém em outro icônico, o da Paris de Lautrec, preferindo a metrópole contemporânea, evocada por um prólogo que busca evocar a excitação da noite, sem grande sucesso. Dupont, que não se escusa em se auto referir, ao filmar um letreiro de um clube noturno que leva seu nome, sem dúvida ainda pega carona em seu filme até hoje mais lembrado, Varieté, opção que voltará a se deter no posterior Piccadily. Toda a ginástica visual que empreende alguns movimentos de câmera como aproximações dos personagens ou a reprodução do que seria o olhar de um personagem, ou seja toda mobilidade pouco usual que havia trazido fama ao cinema alemão alguns anos antes, encontra-se aqui representada, ainda que mais submissa aos ditames narrativos. E, por mais virtuosa que seja, está longe de transformar Dupont em um Pabst, que traz a baila todo um erotismo espontâneo (evocado por De Caligari a Hitler) aqui associado a um drama triangular mais trivial, ainda que envolvendo mãe e filha – ao menos da perspectiva do atormentado moço rico. Aliás, poucas vezes o cinema representou um amor tão enfatuado quanto o de mãe e filha, com seus prolongados beijos na boca. E talvez o que o espectador (sobretudo de quase um século após) se indague seja menos como finalizará a situação triangular que se a amizade aparentemente inabalável entre mãe e filha sairá ilesa de tal provação. Eve Gray, a atriz que vive a filha, é apenas dois anos mais jovem que a intérprete da mãe. Seja com vida ou morte, e pode-se apostar fortemente na segunda hipótese, é certeza que haverá um final redentor. E esse se cumpre, ainda que de forma inverossímil e mesmo ambígua, a depender de uma cena em questão, e do desenrolar do imbróglio afetivo.  Aqui ícones da modernidade, como os automóveis em velocidade extrema, protagonizam o clímax dramático do filme. Das 2 horas e 17 minutos originais, sobrou aparentemente o que se encontra nessa versão, e que parece mais que suficiente para compreender o filme com o qual se lida. British International Pictures. 81 minutos.

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