Filme do Dia: Amar foi Minha Ruína (1945), John M. Stahl

 


Amar Foi Minha Ruína (Leave Her to Heaven, EUA, 1945). Direção:  John M. Stahl. Rot. Adaptado: Jo Swerling, baseado no romance de Ben Ames Williams. Fotografia: Leon Shamroy. Música: Alfred Newman. Montagem: James B. Clark. Dir. de arte: Maurice Ransford & Lyle R. Wheeler. Cenografia: Thomas Little. Figurinos: Kay Nelson. Com: Gene Tierney, Cornel Wilde, Jeanne Crain, Vincent Price, Mary Philips, Ray Collins, Gene Lockhart, Darryl Hickman, Chill Wills.

Apaixonado por Ellen Berent (Tierney), fragilizada pela recente morte do pai, Richard Harland (Wilde) conquista o coração dela, que deixa de lado o então  noivo e casa-se com ele. Juntos eles buscam o irmão deficiente de Harland, Danny (Hickman), que passa a morar com eles, na casa de campo que é propriedade de Harland. O mundo de conto de fadas logo se evanesce sobre a sombra da possessividade de Ellen que, após apoiar a recuperação de Danny, pretende voltar a vê-lo internado, ao mesmo tempo que transforma a estadia de sua irmã Ruth (Crain) e mãe (Philips) insuportável. Igualmente ela não suporta o tempo dispendido pelo marido escritor ao próximo livro. Tendo conseguido que o caseiro mude-se da casa principal, Ellen torna-se cumplíce do afogamento de Danny, quando esse treinava no lago próximo à casa. Deprimida com o distanciamento cada vez maior de Richard, Ellen não vê outra alternativa de voltar a se aproximar do marido, que não mais quer morar afastado, que a gravidez. Porém o ciúme da cumplicidade cada vez maior com a irmã, a quem o marido acabará por dedicar seu livro, e o distanciamento cada vez maior de Richard, por ter que permanecer constantemente em repouso, levam-na a simular um acidente na escada, matando o feto. A situação chega ao limite quando Ellen assume em uma discussão com Richard que nada fizera para ajudar seu irmão e caíra de propósito e ele afirma que a abandonará. Ellen suicida-se, planejando tudo para que a irmã se torne culpada. Condenados pela justiça, iniciam um relacionamento após libertos.

Essa produção pode ser considerada como um dos melhores melodramas jamais produzidos por Hollywood. Utilizando-se de uma soberba fotografia em cores para esse drama  de cunho realista (quando era comum apenas em musicais e filmes de fantasia) com elementos típicos do cinema noir, Stahl realizou um drama que igualmente se destaca da cinematografia contemporânea  pela utilização de exuberantes locações naturais (no estado de Wyoming), mesmo que parcialmente rodado em estúdio. Ao devassar as obsessões da protagonista de modo igualmente obsessivo, o cineasta acaba por retratar ironicamente, de forma subliminar, o american way of life no próprio coração deste, uma produção de cinema para grande público,  de grande orçamento e apelo comercial. Influenciou cineastas como Douglas Sirk e Fassbinder - que em seu Martha retrata as relações afetivas doentias com o mesmo rigor do excesso e a mesma perspicácia de inseri-las dentro do mais banal contexto social da classe média. Por outro lado, mesmo a temática absorvendo muito da popularização que a cultura psicanalítica teve nos EUA em meados do século soe caricata – Ellen vendo em Richard uma forma de substituir o pai morto – demonstra ser bem mais arguta e sutil que a da média então, como em outros filmes do gênero, a exemplo de Quando Fala o Coração (1945) de Hitchcock. 20th Century-Fox. 111 minutos.

 

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