Filme do Dia: A Escada de Serviço (1921), Leopold Jessner & Paul Leni

 


Escada de Serviço (Hintertreppe, Alemanha, 1921). Direção: Leopold Jessner & Paul Leni. Rot. Original: Carl Mayer. Fotografia: Willy Heimeister & Karl Hasselmann. Dir. de arte: Karl Görge & Paul Leni. Com: Henny Porten, Wihelm Dieterle, Fritz Kortner, Eugene Dieterle.

Empregada (Porten) de uma casa burguesa se vê intrigada com o desaparecimento repentino de seu amante (Kortner). O carteiro (Dieterle) apaixonado por ela, que vive no mesmo prédio, intercepta-as. Como a percebe extremamente triste da janela de seu apartamento, resolve ele próprio passar a escrever as mensagens se fazendo do amante. No auge de sua alegria, quando vai comemorar com ele a chegada de uma mensagem do amante, acaba descobrindo toda a farsa. Inicialmente decepcionada, fica tocada pelo amor que o carteiro nutre por ela. Quando se encontra em vias de estabelecer uma relação com ele, seu amante retorna, sendo a farsa descoberta por inteiro. Ele se tranca com o carteiro e é morto por este. A empregada, desesperada e agora sem emprego – o escândalo que acometeu toda a  vizinhança faz com que seus patrões não queiram mais seu serviços – decide se suicidar.

Esse relativamente breve drama amoroso, ainda que com ambientação e enredo que bem poderiam calhar a outra estética antípoda de forte presença no cinema alemão contemporâneo – a chamada Nova Objetividade – é evidentemente mais próxima do sombrio e da fatalidade que formam o cerne do cinema que ficou genericamente designado como expressionista – do qual Mayer é sem dúvida o maior talento literário. Porém, é interessante se perceber aqui, dada a sua dimensão pseudo-realista, uma atenuação de características estéticas abertamente expressionistas. É um filme que se passa em ambientes fechados, a escadaria que dá título ao filme (representação de um certo universo proletário, sendo os burgueses aqui totalmente coadjuvantes, tal como A Última Gargalhada de Murnau, igualmente com roteiro de Mayer) e, ainda mais, o telhado inclinado em que a protagonista realizará seu último ato, mesmo sendo instantaneamente evocativos de O Gabinete do Dr. Caligari (1919), não deixam de tampouco poderem ser encarados sem muito esforço dentro de um imaginário visual realista. Precede A Última Gargalhada (1924) e Sombras (1923) na sua recusa de fazer uso dos entretítulos. Dieterle, que nos créditos ainda aparece evidentemente com seu nome original alemão Wihelm, tornar-se-á realizador de sucesso em Hollywood e Porten foi a primeira estrela do cinema alemão. Destaque para mais um retrato de uma masculinidade problemática e infantilizada, comum no cinema alemão do período, como lembra Kracauer, sendo tal dimensão aqui levada à beira do constrangimento absoluto – a protagonista trata, não sem certa razão, o carteiro com um “maternalismo” de quem se dirige a uma criança ou mesmo um animal.  O voyeurismo associado a incapacidade de expressão da afetividade, assim como o controle da vida social do objeto de amor, seria retrabalhado décadas depois por Kieslowski em seu Não Amarás. Gloria-Film GmbH/Henny Porten Filmproduktion para UFA. 40 minutos.

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