Filme do Dia: A Um Passo da Eternidade (1953), Fred Zinnemann

A Um Passo da Eternidade ( From Here to Eternity, EUA,1953). Direção:  Fred Zinnemann. Rot. Original: Daniel Taradash, baseado no romance de  James Jones. Fotografia: Floyd Crosby & Burnett Guffey. Música: George Dunning. Montagem: William A. Lyon. Dir. de arte: Cary Odell. Cenografia: Frank Tuttle. Figurinos: Jean Louis. Com:  Burt Lancaster, Montgomery Clift, Deborah Kerr, Donna Reed,  Frank Sinatra,  Philip Ober,  Mickey Shaughnessy, Ernest Borgnine, John Dennis,  George Reeves.
            1941. Base americana de Pearl Harbour. Transferido para a unidade comandada pelo Capitão Dana Holmes (Ober), o soldado Robert E.Lee Prewitt (Clift)  é pressionado para lutar boxe no campeonato interno, que premia os vencedores inclusive com ascensão hierárquica. Porém, Prewitt abandonou as lutas desde que um amigo seu acabou acidentalmente cego, quando lutava com ele. Passa então a ser discriminado por todo o Comando, principalmente pelos Sargentos Leva (Shaughnessy) e Galovitch (Dennis), que o ordenam para todos os tipos de serviços extras e missões absurdas. Entre os poucos simpatizantes de Prewitt estão o recruta Maggio (Sinatra) e o sargento Milton Warden (Lancaster), que vive uma relação amorosa com a mulher de Holmes, e considerada como “devoradora de homens”, Karen (Kerr). Num dos raros dias de folga, Prewitt vai com Maggio a um clube atrás de diversão e garotas. Conhece a bela Lorene, que na verdade se chama Alma (Reed), que trabalha no local, entretendo e servindo os homens. Enquanto isso, Maggio se mete em confusão com o Sargento Fatso Judson (Borgnine). Warden, vive sua folga intensamente na praia, com Karen, e a pressiona para que lhe revele sobre sua intensa vida amorosa. Ela afirma que tudo começou após perder um filho e se encontrar impossibilitada de ter outro, pela incapacidade do marido de chamar um médico, tão bêbado se encontrava. A relação entre ambos fica tensa, já que não querem continuar se encontrando furtivamente e, ao mesmo tempo, Warden não cede às pressões de Karen para se transformar em oficial, para que ela se separe do marido e case com ele. Na primeira dispensa em três meses, Prewitt reencontra Alma que, no entanto, não pode lhe dar atenção, porque está trabalhando. Prewitt vai a um bar. Alma consegue inventar uma desculpa e também vai ao bar, assim como Maggio, que saíra por conta própria do posto que lhe fora reservado. Prewitt procura fazer com que Maggio retorne, mas ele é preso. Para Maggio, piora o fato de Judson ser o responsável-chefe pelos presos, passando a espancá-lo seguidamente. Prewitt  não resiste a pressão e espanca Leva, aumentando as expectativas sobre a possibilidade de vir a lutar, o que logo desfaz. Numa noite em que se encontra bebendo com Warden, aparece repentinamente Maggio, fugido da prisão, morrendo logo após, vítima das torturas de Judson. Prewitt toca um sentido adeus ao amigo na corneta, e vinga-o, assassinando Judson e indo para a casa de Alma. Sua relação com ela, no entanto, está longe de ser das melhores, já que ela não se pretende casar com um militar, que significa muito pouco para os seus sonhos de ascensão social. Por outro lado, uma investigação do Exército descobre sobre as seguidas punições que Prewitt fora vítima por não querer lutar, o que resulta no afastamento do exército do capitão Dana. Punição que rompe a relação amorosa entre Warden e Karen, já que ela voltará com o marido para os EUA, e ele não requereu, seguindo seus princípios, um posto como oficial. Quando Prewitt se recupera na casa de Alma ocorre o ataque japonês, pegando todos desprevenidos. Disposto a retornar ao Exército, apesar da pressão contrária de Alma, mesmo com tudo que lá sofreu e com a morte do amigo, porque “é um soldado”, Prewitt é morto pelos soldados que pensam se tratar de um soldado inimigo se acercando da base. No navio, Karen conversa com Alma, e esta lhe fala que seu noivo fora morto em ação heroica pelos japoneses.
         Tendo como tema principal o princípio caracteristicamente liberal de que o homem deve ser fiel, acima de tudo, aos seus princípios, resumido no mote de Prewitt, de que “se um homem não faz o que quer não é nada”,  o filme tem como pano de fundo as relações entre os dois casais. Mesmo liberal, o filme passa longe do nacionalismo e militarismo de filmes como O Resgate do Soldado Ryan (1998), de Spielberg, já que tanto as três mortes - de Prewitt, Maggio e Judson - do filme são provocadas em conflitos internos do Exército, quanto também não ocorre nenhum voyeurismo ou espetacularização das cenas de guerra, que surgem brevemente apenas no ataque de Pearl Harbour. E mesmo o liberalismo de Prewitt, que ouve como resposta que seu mote poderia valer para o tempo dos pioneiros mas não para os dias atuais, parece ser mais ambíguo que o usual da época em filmes como Sementes da Violência, já que acaba por provocar sua morte. A cena da praia entre Lancaster e Kerr (que seria parodiada dois anos após por Wilder em O Pecado Mora ao Lado), que marcou uma geração pela ousadia, apenas demonstra como o filme envelheceu mal e tornou-se grandemente antiquado, com a ressalva de as mulheres serem menos passivas do que o habitual então, possuindo uma vida sexual de igual ou maior voltagem que os homens, assim como poder de decisão - mesmo que tenha que se referir a uma motivação adicional grandemente inverossímil para justificar tal conduta, no caso de Karen, o trauma pela perda do filho. Da mesma forma, cabe destacar dentro de sua narrativa grandemente tradicional, uma aproximação, muitas vezes irônica, do objeto, como na cena final, em que Alma se ilude, acreditando ter Prewitt morrido em ação contra os inimigos. Baseado em romance de James Jones, o mesmo de Além da Linha Vermelha (1998), e com semelhanças que vão além do nome dos seus protagonistas. Também como Witt, Prewitt é um iconoclasta, teimoso, anti-social, sensível e guiado por uma moral bem peculiar (caindo como uma luva as escolhas de Caviezel e Clift, respectivamente, para os papéis), ainda que o último possa ser associado, sobretudo, aos princípios liberais, enquanto o primeiro estaria mais próximo de uma espiritualidade e visão de mundo humanista bem peculiares. Ambos também morrem. Foi refilmado, como minisérie para a TV em 1979. National Film Registry em 2002. Columbia. 118 minutos.

Comentários

  1. Jamais havia suspeitado dos paralelos entre os personagens de Caviezel em ALV e Clift em APE. Certamente terei isso em mente quando re-assistir a um ou outro.

    Cumps.

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