Filme do Dia: Narciso Negro (1947), Michael Powell & Emeric Pressburger


Narciso Negro (Black Narcissus, Reino Unido, 1947). Direção e Rot. Original: Michael Powell & Emeric Pressburger. Fotografia: Jack Cardiff. Música: Brian Easdale. Montagem: Reginald Mills. Dir. de arte: Alfred Junge. Figurinos: Hein Heckroth. Com: Deborah Kerr, David Farrar, Sabu, Flora Robson, Esmond Knight, Kathleen Byron, Jean Simmons, May Hollat.

Um grupo de freiras, liderada pela jovem madre superiora Irmã Clodagh (Kerr) é nomeada para transformar um antigo palácio-harém de uma realeza hindu nos Himalaias em convento. Perturbadas pelo clima, costumes e dificuldades do local, elas contam com a experiência de um antigo morador britânico, o Sr. Dean (Farre), motivo de interesses tanto da rebelde Irmã Ruth (Byrm) quanto da própria madre superiora. Embora somente seja permitida a educação de crianças e mulheres no local, Irmã Clodagh abre uma exceção para o jovem general (Sabu), que pretende se tornar sábio e acolhem a pária Konchi (Simmons), que imediatamente se sente atraída pelo jovem general. O auge da tensão se dá quando Clodagh percebe ruídos no quarto de Irmã Ruth, e a descobre completamente desembaraçada dos trajes religiosos e disposta a abandonar o local. Clodagh pede que ela saia somente ao raiar do dia e pretende lhe fazer companhia mas adormece e permite a fuga de Ruth, que vai até a casa do Sr.Dean, dizendo-se apaixonada por ele. Ele afirma que ela deve retornar ao convento. Ela retorna e morre ao tentar assassinar Clodagh. A missão abandona o local, e Clodagh se despede de Dean, dando-lhe razão sobre o quão breve tempo permaneceriam  lá.

Tocante e extremamente madura é a sensiblidade de Powell & Pressburger (no auge de uma associação que renderia diversos filmes, sendo Pressburger colaborador sobretudo nos roteiros e na produção) para descrever com sutileza a sexualidade reprimida dos seus personagens, distanciando-se da carolice ou sensacionalismo com que o tema foi habitualmente tratado pelo cinema. Aqui, todo esse imaginário de fantasia ganha corpo através da exuberante fotografia, dos magníficos cenários e de uma apurada e sensível direção de atores, com destaques para Kerr, Farre e Byrm, compondo uma atmosfera ao mesmo tempo onírica e pouco crível de ter se concretizada completamente em estúdio. Entre as cenas de destaque, a despedida final entre Clodagh e Kean, a partir de um simples aperto de mão, constrói um raro momento em que desejo e contenção emocional se mesclam à perfeição. Ou ainda a verdadeira febre de desejo que ataca Ruth, que se transforma numa espécie de Rainha Má da Branca de Neves, acabando por ter o seu mesmo fim. Sabu, que se tornaria o ator por excelência a viver papéis estereotipados de hindus, foi descoberto por Flaherty para seu The Elephant Boy (1937). O estilo luxuriante e fantasioso de Powell e sua vocação para um cinema de apelo ao grande público o tornaram não somente ignorado pela crítica (que o redescobriria bastante tempo depois) como ironicamente idiossincrático numa época em que a cinematografia britânica era comumente associada ao realismo dos estúdios Ealing e a famosa escola documental britânica. Independent Producers/The Archers para General Film Dist. 100 minutos.

Postado originalmente em 15/06/2015

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