Filme do Dia: Silêncio nas Trevas (1945), Robert Siodmak

 



Silêncio nas Trevas (The Spiral Staircase, EUA, 1945). Direção: Robert Siodmak. Rot. Adaptado: Mel Dinelli, a partir do romance de Ethel Lina White. Fotografia: Nicholas Musuraca. Música: Roy Webb. Montagem: Harry W. Gerstad & Harry Marker. Dir. de arte: Albert S. D’Agostino & Jack Okey. Cenografia: Darrell Silvera. Com: Dorothy McGuire, George Brent, Ethel Barrymore, Kent Smith, Rhonda Fleming, Gordon Oliver, Elsa Lanchester, Sara Allgood, Rhys Williams, James Bell.

Em 1916, um tenebroso serial killer começa a praticar uma série de crimes de mulheres portadoras de alguma deficiência. Sendo muda, a partir de um trauma que vivenciou na infância,  Helen (McGuire) parece ser um vítima em potencial. O inspetor Constable (Bell) avisa ao filho da Sra. Warren (Barrymore), Albert (Brent), sobre o risco que corre Helen, que é ajudante da enferma dona da casa. A própria Sra. Warren, um tanto emocionalmente instável e irritadiça com sua enfermeira, Barker (Allgood), avisa Helen que deve sair o quanto antes da mansão. O outro filho da Sra. Warren, é o inconsequente e mulherengo Steve Warren (Oliver), cujos interesses atuais são a secretária do irmão, Blanche (Fleming), que vem a ser a próxima vítima do assassino misterioso. O médico que a Sra. Warren deseja ser tratada é Dr. Parry (Smith), que se interessa pelo caso de Helen e acredita que pode curá-la ao relatar para ela o trauma que a havia deixado muda.

O talento visual habitual nos filmes de Siodmak (aqui contando com a ajuda do mais talentoso fotógrafo do estúdio, de Sangue de Pantera) faz com que sua aproximação do gênero noir se dê mais por sua fotografia soturna e contrastes de chiaroescuro que provocam sombras, que propriamente por sua trama narrativa, em que mesmo os crimes cometidos pelo assassino se tornam uma situação um tanto marginal até o final. Com ágeis movimentos de câmera, o filme sofre por seu acumulado de redundâncias, que incluem a própria atmosfera elaborada e sua trilha musical nada discreta. Seu elenco de apoio é outro trunfo, enquanto uma fraqueza que o torna menor diz respeito ao abuso de fórmulas, sendo o mais escancarado o  recorrente lugar-comum do período,  a necessidade do retorno do recalcado para a cura do trauma que incapacita uma personagem. Apesar disso, vai no sentido oposto quando dissocia libertinagem de comportamento patológico, residindo esse justamente no perfil mais aparentemente ajustado. Seu virtuoso prólogo, que inclui uma rara referência aos primórdios do cinema narrativo pelo cinema clássico, e ainda mais raro ao acrescentar cenas de filmes do período (The Sands of Dee, de Griffith, e The Kiss, de Ulysses Davis, de 1912 e 1914 respectivamente) parece sugerir algo mais criativo do que de fato se seguirá. Embora sua narrativa seja ambientada no final da I Guerra, algo sequer evocado por qualquer personagem, a presença de um vilão indisposto com mulheres portadoras de algum tipo de deficiência surge como uma alusão não muito velada às práticas de eugenia nazista e alhures – com casos menos conhecidos nos próprios Estados Unidos. Até mesmo por conta dessa tara não se encontrar presente nos dois romances que o filme se inspira, dos quais apenas um é creditado.  Que o assassino consiga domar seus instintos para os momentos em que pode incriminar outra pessoa é um testemunho-chave de quão o filme se encontra mais preocupado em modelar uma narrativa que gere despistamentos da figura do assassino que propriamente uma elaboração de um perfil mais aprofundado dos mesmos. A escada, esse locus privilegiado das tensões nos melodramas (como em Juventude Transviada), nos filmes de suspense (vide Hitchcock) e horror ou que ao menos envolvem elementos dos mesmos, como aqui, é o local também da morte e ganha proeminência no título original. Destaque para o primeiro plano do olhar alucinado do assassino que era o de ninguém menos que o próprio Siodmak. RKO Radio Pictures/Dore Schary Prod./Vanguard Films para RKO Radio Pictures.  83 minutos.

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