Filme do Dia: Ciúme, Sinal de Amor (1949), Charles Walters

 


Ciúme, Sinal de Amor (The Barkleys of Broadway, EUA, 1949). Direção: Charles Walters.  Rot. Original: Betty Comden & Adolph Green. Fotografia: Harry Stradling Sr. Música: Lennie Hayton. Montagem: Albert Akst. Dir. de arte: Edward C. Carfagno & Cedric Gibbons. Cenografia: Edwin B. Willis. Figurinos: Valles. Com: Fred Astaire, Ginger Rogers, Oscar Levant, Billie Burke, Gale Robbins, Jacques François, George Zucco, Clinton Sundberg.

Josh e Dinah Barkley (Astaire e Rogers) são um casal consagrado do mundo dos espetáculos que se prepara para um novo musical na Broadway. Na festa que comemora o sucesso do musical, Dinah, insegura com os comentários do marido, passa a se interessar pelo que o francês Jacques (François) comenta a respeito de seu potencial talento para a arte dramática. Egos feridos, Josh e Dinah deixam de morar juntos. Josh continua o musical com uma aspirante a estrela, Shirlene (Robbins), enquanto Dinah começa os treinos para a peça sobre a vida de Sarah Bernardt. Fingindo ser Jacques, Josh, preocupado com o baixo rendimento da esposa nos preparativos para a peça, passa a orienta-la pelo telefone sobre como agir no palco. A mudança é perceptível e ela se sai melhor nos ensaios. O empresário de ambos, Ezra Miller (Levant), traz os dois para um evento beneficiente, e sem o saber que o faria, Dinah é levada de volta aos palcos por Josh, cativando o público com sua performance.  Apesar do entrosamento no palco, as rusgas persistem. A peça de Jacques se torna um grande sucesso, com destaque para a intepretação aguerrida de Dinah. Porém, o que fará com que os ânimos ressentidos de ambos desfaçam o mal estar que os separou?

Após 10 anos de sua última parceria, a dupla Astaire & Rogers realiza esse filme, seu único em cores e produzido pela Metro, no qual atributos característicos de outros filmes da dupla (como é o caso de Vamos Dançar?), para não dizer de todo um filão do gênero musical como um todo, não deixam de se encontrar presentes como, uma vez mais, a tensão entre a comédia musical enquanto gênero menor (o que evidentemente se reflete igualmente não apenas para a narrativa que descreve, mas para o próprio gênero musical em termos de cinema)  e o drama – enquanto no filme anterior a tensão era com a música e o balé clássicos. Se no caso do filme de Sandrich tal tensão não era mote mais que para algums gags, aqui  parece se encontrar pairando por boa parte do filme. E, evidentemente, associada a algo mais importante para a trama em si, ausente naquele, a sedução. O momento em que Jacques convida Dinah para ser sua Sarah Bernhardt, a ironia não se encontra presente somente na dissonância que é uma Dinah/Rogers enfatuada com sua fala dramática, mas se escuta trovões e começa a chover, numa referência a tal equivalente dramático igualmente no mundo do cinema. Ao contrário dos filmes da RKO, igualmente, e isso diz respeito a uma maturação do gênero, aqui mesmo que sob a forma de farsa ligeira (e não do drama lancinante associado a um mundo competitivo que leva alguns ao alcoolismo como em Nasce uma Estrela, de 1954), alude-se a distância existemte entre o mundo feliz construído pela e para a imprensa por parte do star system e as tensões da convivência cotidiana, representadas de forma quase didaticamente caricata na cena que forja um café da manhã para a revista Look, logo após Josh encontrar a prova que Dinah pretende trabalhar com Jacques. A única cena algo memorável é a que Astaire dança com um par de sapatos mágicos que parece guia-lo nos movimentos, logo sendo acompanhado por outros pares sem dançarinos. A outra, mais emocionante, talvez se deva menos a própria coreografia em si, que a inteligente inclusão de They Can't Take That Away from Me, de Ira e George Gershwin, representando tanto uma referência a ruptura do casal na trama como da própria dupla Astaire & Rogers por tantos anos, e evocativa dos momentos vividos nos musicais em p&b, assim como da própria canção (escrita originalmente para Vamos Dançar?). Os dois longos – sobretudo o segundo – interlúdios apresentando Oscar Levant ao piano, não possuem motivação dramática alguma que apresentar um virtuoso do piano de fato e ator bissexto. O tratamento paternalista que Josh dispensa a insegura Dinah, que somente acredita em si própria se tem um homem a incentivando, poderia servir como irônico comentário ao destino diferenciado que as estrelas femininas possuíam em relação a longevidade bem maior das masculinas – o próprio Astaire teve vários outros títulos relevantes nos anos 40 e 50, ao contrário de Rogers. MGM. 109 minutos.

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