Filme do Dia: Memórias (1980), Woody Allen
Memórias (Stardust Memories, EUA, 1980). Direção e Rot. Original: Woody
Allen. Fotografia: Gordon Willis. Música: Dick Hyman. Montagem: Susan E. Morse.
Dir. de arte: Mel Bourne. Figurinos: Santo Loquasto. Com: Woody Allen,
Charlotte Rampling, Jessica Harper, Marie-Christine Barrault, Tony Roberts,
Daniel Stern, Anne de Salvo, Joan Neuman, Louise Lasser, Ken Chapin, Amy
Wright.
Sandy Bates (Allen) é um neurótico
cineasta que tenta encontrar estabilidade emocional em meio a vários
relacionamentos com mulheres e as pressões da vida profissional, que lhe leva a
entrar em atrito com o estúdio que produz seu novo filme e a ter que aturar a
incômoda tietagem dos fãs. Bates é convidado para uma retrospectiva sobre sua
obra em uma pequena cidade litorânea, onde além de responder as perguntas da
intelectualizada platéia, revive momentos de sua vida, como o relacionamento
findo com a insegura atriz Dorrie (Rampling), elabora fantasias sobre sua fama
e divide-se entre Isobel (Barrault), recém-separada do marido e a jovem
violinista Daisy (Harper).
Allen pela primeira vez explora com
intensidade as complexas relações entre ficção e realidade, fantasia e mundo
real (tema que seria retrabalhado em outros filmes posteriores, como Desconstruindo Harry) com uma colagem
de situações que deixa de lado a linearidade narrativa. Embora a influência de
Fellini seja um peso excessivo (os tipos exóticos que o cineasta apresenta,
assim como a seqüência do congresso de
ufólogos e o próprio tom do filme, muito próximo de 8 e ½)
não há como não destacar um brilho próprio, seja na concepção visual do filme,
onde o branco é a cor predominante, seja em momentos em que satiriza a cultura
acadêmica que se reflete em boa parte de seus espectadores – “o que
representará o Rolls-Royce dele?” pergunta uma mulher ao final da sessão do
filme dentro do filme. O filme se apóia entre momentos hilários e ternos.
Dentro do primeiro grupo incluem-se o diálogo de Bates com os extra-terrestres,
a visita à irmã, com um marido que não para de pedalar sua bicicleta
ergométrica, o constrangimento em um restaurante que resolve levar os filhos de
sua namorada, que não param de chamar a atenção de todos, a seqüência inicial
do trem. No segundo a descida dos balões (ao som de Moonlight Serenade) e a descrição do momento de indescritível
felicidade que sentiu observando Dorrie folhear uma revista ao som de Louis
Armstrong, seqüência influenciada pelo Bergman de Gritos e Sussurros. Não faltam referências irônicas à cobrança do
público por filmes menos pretensiosos, como os do primeiro momento da carreira
do cineasta, um reflexo da má acolhida de filmes “sérios”, como o anterior, Interiores. Provavelmente nenhum outro
filme do cineasta seja tão centrado em seu alter-ego. Mesmo que utilize uma
menor diversidade de efeitos narrativos que Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, fazem-se presentes efeitos rápidos
com a própria película (como os do prólogo de Persona) e uma seqüência de montagens abruptas com Rampling
dirigindo-se diretamente à câmera. Lasser, companheira de Allen nos primeiros
filmes, aparece em um pequeno papel , assim como uma ainda desconhecida Sharon
Stone, presente em uma ponta na seqüência do trem. United Artists. 88 minutos.
Comentários
Postar um comentário