Filme do Dia: Quando uma Mulher Sobe as Escadas (1960), Mikio Naruse




 Quando uma Mulher Sobe as Escadas (Onna Ga Kaidan wo Agaru Toki, Japão, 1960). Direção: Mikio Naruse. Rot. Original: Ryuzo Kikushima. Fotografia: Masao Tamai. Música: Toshirô Mayuzumi. Dir. de arte: Satoshi Chuko. Figurinos: Hideko Takamine. Com: Hideko Takamine, Masayuki Mori, Reiko Dan, Tatsuya Nakadai, Daisuke Katô, Ganjiro Nakamura, Eitarô Ozawa, Keiko Awaji.


Keiko Yashiro (Takamine), jovem víuva, conhecida como Mama,  leva para frente um clube no bairro boêmio de Ginza. Os negócios se tornam difíceis com a concorrência de uma mulher que trabalhara para ela e que conquista a maior parte de seus clientes. Mama não dessiste, no entanto. Sua idéia é de montar um novo bar. Enquanto isso, a jovem que fora sua concorrente lhe afirma que se encontra cheia de dívidas e pouco tempo depois se suicida. O rico homem que propõe a Mama seu próprio negócio é o mesmo que pressionara a jovem morta com as dívidas, e ela recusa. Sendo corteja por Keiko (Katô), um gentil homem que lhe propõe casamento, Mama parece disposta a aceitá-lo, mas logo descobre que ele é casado e aplica com freqüência esse golpe para seduzir várias mulheres solitárias. Bêbada, finalmente se declara apaixonada por Nobuhiko (Mori), homem casado que partirá no dia seguinte para Osaka. Nobuhiko promete ajudá-la nos negócios. Ela vai até a estação ferroviária e presenteia sua família. Na manhã seguinte do dia que dormira com Nobuhiko, recebe a visita de um indignado Kenichi (Nakadai), jovem gerente de seu bar, que declara sua paixão por ela e é recusado. Com todas as tormentas pessoais e financeiras, Mama continua levando a vida com a mesma dignidade de sempre.

A metáfora vinculada ao título que orienta esse típico melodrama de Naruse, onde amor e dinheiro se encontram na balança do sempre difícil equilíbrio feminino da sobrevivência é a referida por sua própria protagonista diante das escadas de sua moradia. Trata-se de algo que a enfada, mas que ela tem que enfrentar sem muito parar para pensar. Tal como sua própria vida. A dimensão prática da vida deve se sobrepor aos altos e baixos que lhes são inescapáveis. A certo momento, o filme pode sugerir que a contraposição seria entre o estilo antiquado de se vestir e de recepcionar em seu bar e o da jovem que se veste nos padrões ocidentais e lhe rouba a clientela.  Logo, no entanto, fica patente que Mama se sente solidária, enquanto mulher, de seu infortúnio. Filmado em preto&branco e tela larga, ocasionalmente pode ser evocativo dos melodramas sirkeanos da década anterior, como quando observamos Mama tentando se adequar a possibilidade futura de uma vida de casada e a câmera a mostra devidamente “enquadrada” pelas paredes do quarto. Porém em Naruse raramente a concretização do amor segue unida ao desgastante cotidiano, podendo ser evocada em um passado feliz (como no casamento de Mama) ou na ilusão de poder ter se unido ao amante de uma única noite. Aqui, menos do que em outros filmes, a amargura que tal solução, tomada por decisão própria ou não, acarreta, parece ser menos acentuada – ou, pelo menos, somente vir a tona através do álcool – do que na maior parte de seus filmes, emprestando uma maior dignidade a consciência da solidão. Uma das estratégias comuns para criar uma identificação com suas protagonistas é justamente sua dignificação, que pode aqui ser contraposta com a personagem secundária de Junko, que simplesmente se vende para uma homem bem mais velho com o objetivo de conseguir montar seu próprio bar. A metáfora da escada já implica que a dificuldade faz parte da vida e se deve aceitá-la com resignação. Takamine, que quase sempre estrelou  mulheres em situação semelhante, conserva o seu habitual brilho e foi também responsável pelos figurinos do filme.  Curiosamente Katô faria o mesmo papel de homem cortês, servil e tímido, porém dessa vez sincero, em Lonely Lane (1962). Toho. 111 minutos.

Postado originalmente em 19/12/2016

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