Filme do Dia: Olhos Diabólicos (1963), Mario Bava

 


Olhos Diabólicos (La Ragazza che Sapeva Troppo, Itália, 1963). Direção: Mario Bava.  Rot. Original: Ennio De Concini, Sergio Corbucci, Eliane De Sabata, Mino Guerrini, Franco Prosperi & Mario Bava. Fotografia: Mario Bava. Música: Roberto Nicolosi. Montagem: Mario Serandrei. Dir. de arte: Giorgio Giovannini. Cenografia: Luigi D’Andria. Figurinos: Tina Grani. Com: Letícia Roman, John Saxton, Valentina Cortese, Titti Tomaino, Luigi Bonos, Milo Quesada, Roberto Buchanan, Marta Melocco, Gustavo De Nardo.

Nora (Roman) é uma turista norte-americana que chegando em Roma, vê-se imediatamente envolvida pelo crime que testemunhou nas escadarias da Piazza di Spagna. Crime esse que aparentemente, encontra-se relacionado com um matador serial, vinculado aos “crimes do alfabeto”, em que vai matando mulheres a partir de seus sobrenomes. A própria Norase encontra hospedada na casa de Laura (Cortese), vizinha à praça e se envolve emocionalmente com um dos médicos que cuidou dela após chegar em estado de choque, em um hospital próximo, Dr. Marcello Bassi (Saxon).

Ao mesmo tempo que se insere no gênero do suspense com certa maestria, apresentando mais sugestões do que propriamente cenas escatológicas, e não por acaso co-dirigiu um filme com Jacques Tourneur, após ter sido diretor de fotografia para o mesmo, tampouco deixa de ser notório constantes referências autoconscientes ao próprio gênero, senão a determinados aspectos do próprio cinema hollywoodiano – o comentário da forte figura do narrador over, por exemplo, se estende suas referências ao universo do romance policial (Agatha Chrithie é uma das citadas, a determinado momento) tampouco parece ser sutilmente irônico, em seu comentário inicial, com a própria figura da norte-americana turista deslumbrada com a Itália; e o que era cenário para um port-pourri visual de locações turísticas em tela larga e Technicolor servindo como pano de fundo para ações românticas nas produções norte-americanas da década anterior, transforma-se rapidamente em Bava – que não deixa de exibir ele próprio uma sequência semelhante enquanto um respiro em meio as tensões de sua heroína e em p&b, sendo seu último filme não colorido – em um pesadelo de incertezas. É tido como o filme pioneiro do policial italiano, giallo, pelo qual, além do horror, Bava é mais lembrado, embora trafegasse em uma infinidade de gêneros.  E Bava não deixa de fazer uso de subterfúgios rotineiros do cinema clássico hollywoodiano, como uma atriz italiana falando em italiano enquanto turista norte-americana, sem que qualquer explicação para tal comportamento venha a ser acrescentado no roteiro. As funções desse narrador over são múltiplas, inclusive auxiliando o próprio espectador no reconhecimento de alguns elementos de uma trama tão rocambolesca, como quando Nora reconhece a garota que testemunha o assassinato na Piazza di Spagna. Ou ainda traduzindo seus próprios pensamentos. Desconstruindo de forma catártica o senso de paranoia e incerteza que acompanhava Nora, inclusive junto aos policiais que desacreditavam ter ela testemunhado um assassinato e criam ela estar sofrendo alucinações, o filme reserva a um efeito-gag final, não muito distante dos que por vezes ornavam os filmes de Hitchcock, de quem Bava era admirador. Galatea Film/Coronet s.r.l. para Warner Bros. 86 minutos.

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