Diretoras de Cinema#6: Jacqueline Audry

 


AUDRY, JACQUELINE (1908-77). França. A França tem tido mulheres trabalhando ativamente desde a aurora da história do cinema, quando Alice Guy dirigiu um dos primeiros filmes narrativos do mundo, em 1896, na Gaumont. As diretoras de cinema  tem florescido na França tanto nos cinemas comercial quanto de vanguarda. Nos dias pioneiros da vanguarda francessa, a realizadora lésbica Germaine Dulac ajudou a forjar uma versão feminista do cinema artístico. Os filmes silenciosos franceses foram dirigidos por Renée Carl, Rose Lacau-Pansini e Marie-Louise Iribe. Nos anos 1930 Marie Epstein, Solange Térac (La Vagabonde, 1931) e Marguerite Viel (Le Bauque Némo, 1932) dirigindo longas ficcionais.

No período do pós-guerra, muitas mulheres começaram a dirigir curtas, documentários e filmes experimentais, incluindo Nicole Védrès (Paris 1900, 1942) e Yannick Bellon (Góemons, 1948). Os protestos estudantis de maio de 1968 e a ascensão da revista crítica Cahiers du Cinéma estimularam uma nova onda de cinema "autoral" (cinema que representa o espírito pessoal do próprio diretor(a). Nelly Kaplan, Agnès Varda, Yannick Bellon, Nadine Tritignant, e outras diretoras foram parte de uma Nova Onda de realizadoras. Agnès Varda é algumas vezes creditada por um dos primeiros filmes da Nova Onda (Cleo de 5 às 7), embora muitas realizadoras, incluindo Jacqueline Audry, tenham sido grandemente omitidas das histórias do cinema francês. 

Nascida na França, Audry trabalhou como assistente de Jean Delannoy, G.W. Pabst e Max Ophüls. Talvez um dos motivos do negligenciamento crítico de sua obra é que seu cinema pertence a um estilo mais tradicional de realização, que os da escola modernista. Os filmes de Audry, como os de Ophüls, são reconhecíveis por sua teatralidade antiquada, mas, para alguns, este é um marco de qualidade. Audry foi atraída pelo bom gosto de filmes de época de estúdio, frequentemente adaptações literárias, como os filmes de Ophüls. Os críticos modernistas não conseguiram ver para além das aparências cintilantes de Audry, sua ênfase nos diálogos e nos valores de produção. Mas, em retrospectiva, agora podemos ver que Audry infundiu seus filmes com uma distinta inclinação feminista e frequentemente escolheu produções que  descreviam mulheres como personagens centrais. Diversas de seus filmes são adaptações de romances de Colette: Gigi (O Brotinho e as Respeitosas, 1948); Minne (A Ingênua Libertina, 1950), e Mitsou (1956). Minne foi fortemente censurado porque descrevia a exploração sexual de uma jovem fora do casamento.

Em 1951, Audry dirigiu seu filme mais famoso, Olivia, a história de uma relação lésbica. Olivia é baseado em um romance autobiográfico de Dorothy Strachey Bussy e diz respeito a um internato feminino, no qual duas garotas disputam o amor da diretora. E é interessante perceber que Olivia é um de um pequeno grupo de filmes que quase constitui um gênero por si próprio - o soft core lésbico, filmes de escolas de garotas, incluindo Maedchen in Uniform (Senhoritas em Uniforme, Alemanha, 1931, dir. Leontine Sagan), Club de Femmes (Só para Mulheres, França, 1936, dir. Jacques Deval) e The Wild Party (Garotas na Farra, Estados Unidos, 1929, dir. Dorothy Arzner).

Andre Weiss localiza o subgênero das escolas exclusivamente para mulheres dentro do contexto histórico das advertências dos primeiros "especialistas em sexo" Krafft-Ebing e Havelock Ellis. Ellis, por sua vez, pronunciava com ênfase que ambientes totalmente femininos "criavam apelos patológicos entre as mulheres" (Weiss, p. 8). Em toda a sua obra, Audry apresentou uma preocupação central com o tema da união feminina. Ela retorna ao subgênero da escola de garotas, com L'École des Cocottes (Escola de Mundanas) e lida com a sexualidade transgressora em Le Secret du Chevalier d'Éon, um filme sobre um famoso travesti. 

O cinema de Audry é comparável ao de Dorothy Arzner. Ambas trabalham com o sistema de estúdios, ambas centradas em protagonistas femininas fortes, e ambas foram bem sucedidas nas bilheterias. Levou-se anos para as feministas reconhecerem a obra de Arzner e passarem a desemaranhar sua complexa abordagem feminista. Talvez os filmes de Jacqueline Audry passem a ser recontextualizados pelas feministas modernas. Audry nos legou um impressionante corpo de longas-metragens com fortes heroínas mulheres, o que é uma conquista significativa, particularmente no meio grandemente sexista da França dos anos 50 e 60.

FILMOGRAFIA SELECIONADA

Les Chevaux du Vercors (curta) (1943)
 Les Matheurs de Sophie (1944)
 Gigi (O Brotinho e as Respeitosas, 1948) 
 Sombre dimanche (1948)
 Minne ou I'ingenue libertine (Minne) (A Ingênua Libertina, 1950) 
 Olivia  (1951)
 La Caraque blonde (1952) 
 Huis-clos (1954) 
 Mitsou (1956)
 La Garçonne (1956)
 L'École des Cocottes (Escola de Mundanas, 1957)
 C'est la Faute d' Adam (1958) 
 Le Secret du chevalier d'Eon (1959) 
 Les Petits Matins (Mulher na Estrada, 1961) 
 Cadavres en vacances (1961) 
 Cours de Bonheur Conjugal (1964) 
 Fruits amers (Desejos Amargos, 1966) 
 Le Lys de mer (1969) (*)
 Un grand Amour de Balzac (1972) (*)

BIBLIOGRAFIA SELECIONADA

Ford, Charles. Femmes Cineastes, ou Le triomphe de la volonte. Paris: Denoel/ Gonthier, 1972. Hayward, Susan, and Ginette Vincendeau, eds. French Film: Texts and Contexts. London: Routledge, 1989. 
 Sadoul, Georges. Dictionnaire des cineastes. Paris: Microcosme/Editions du seuil, 1965.
 Smith, Sharon. Women Who Make Movies. New York: Hopkinson and Blake, 1975. 
 Weiss, Andrea. Vampires and Violets: Lesbians in Film. New York: Penguin, 1993

Texto: Foster, Gwendolyn. Women Film Directors - An International Bio-Critical Dictionary. Westport-Londres: Greenwood Press, 1995, pp. 26-28

N. do E: Estas duas últimas produções não são creditadas no IMDB como de nacionalidade francesa ou dirigidas por realizadores franceses, muito menos por Audry

 

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