Filme do Dia: Gritos e Sussurros (1972), Ingmar Bergman
Gritos e Sussurros (Viskningar
och rop, Suécia, 1972). Direção e Rot. Original: Ingmar Bergman.
Fotografia: Sven Nykvist. Montagem: Siv Lundgren. Dir. de arte e Figurinos:
Marik Vos-Lundh. Com: Harriet
Andersson, Kari Sylwan, Ingrid Thulin, Liv Ulmann, Erland Josephson, Henning
Moritzen, Georg Arlin.
Ambientado em uma mansão no final do
século XVIII, esse drama de câmara sobre uma jovem agonizante (Andersson) que
morre cercada pelas irmãs Karin (Thulin), Maria (Ulmann) e pela empregada Anna
(Sylwan), trata-se não só da melhor realização dessa fase do cineasta, marcada
pela análise das relações emocionais entre membros de um mesmo círculo social,
como igualmente uma das mais bem sucedidas representações das relações entre
subjetividade e objetividade na história do cinema. Demonstrando um tino
particular na intersecção entre passado e presente, realidade e fantasia, o
cineasta investiga os demônios interiores dos personagens, ressaltando que a
fria racionalidade burguesa esconde sua extrema dificuldade de lidar com os
sentimentos, que degeneram em neuroses fóbicas e histeria, como no temor de
lidar com a morte, buscando subtraí-los através de defesas. A única personagem
que consegue efetivamente aproximar-se de Agnes, a moribunda, é a criada. Já o
abismo entre os sentimentos mais profundos e a hipocrisia das convenções
sociais transparece próximo ao final quando Karin e Maria se despedem friamente
e, com seus respectivos maridos, despedem-se com a mesma frieza de Anna.
Tingido pelo vermelho, onipresente na decoração da mansão, assim como nos fades
que pontuam com elegância a narrativa e no sangue que Karin esfrega em seu
próprio rosto, após se auto-mutilar, o drama é igualmente ritmado pelo silêncio
da mansão, entrecortado somente pelo ruído dos relógios e pelos gritos de
agonia da enferma. Apresenta, entre seus melhores momentos, a cena em que o
amante explora sem piedade o rosto de Maria frente ao espelho e, quando Karin,
consciente da própria hipocrisia, afirma que tudo são mentiras, e ainda quando Karin e Maria trocam afagos cúmplices. E a tocante seqüência final, que apresenta uma recordação de Agnes, entrevista
por Anna. A música de Bach é a única presença musical. Cinematograph AB/Svenska
Filminstitutet. 106 minutos.
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