Filme do Dia: A Infância Nua (1969), Maurice Pialat
A Infância Nua (L´Enfance Nue, França, 1969). Direção: Maurice Pialat. Rot. Original: Maurice Pialat & Arlette Langmann. Fotografia: Claude Beausoleil. Com: Michel Terrazon, René Thierry, Marie-Louise Thierry, Henri Puff, Raoul Billerey, Linda Guttemberg, Marie-Marc, Pierette Deplanque.
François (Terrazon) é um problemático
garoto de 10 anos abandonado pelos pais e cujos pais adotivos (Billerey e
Guttremberg) decidem abrir mão da guarda por conta do excesso de problemas
provocados pelo garoto e por acreditarem que ele está influenciando mal a filha
adotiva Josette (Deplanque). A seguridade social leva François para o sítio do
casal de meia-idade, os Minguet (René e Marie-Louise Thierry), onde François
divide espaço com um adolescente mais velho, Raoul (Puff) e se apega
grandemente com a bisavó. Envolvendo-se sempre em pequenas confusões, François
acaba sentindo bastante a morte da bisavó. Com outras crianças, provoca um
sério acidente de trânsito pelo qual é levado ao reformatório e de onde escreve
uma carinhosa carta para o casal Minguet.
Essa que é provavelmente a obra-prima
e o primeiro longa-metragem de Pialat
também se trata de um dos filmes que melhor retrata a infância
problemática da história do cinema, filiando-se ao Os Incompreendidos (1958), de François Truffaut e se afastando de
visões mais adocicadas que Truffaut realizaria posteriormente como Na Idade da Inocência (1972). Pialat
consegue se desvencilhar ainda mais de um certo tom de poesia e nostalgia ainda
presente no filme de Truffaut, com uma narrativa que consegue atingir sua
pungência a partir de sua própria secura. Nesse sentido, não existe trilha
musical alguma, os cortes são secos e há pouca movimentação de câmera, além de
Pialat trabalhar predominantemente com atores amadores, muitos deles
vivenciando aparentemente situações próximas de sua vida real, o que apenas
exarceba o tom de realismo semi-documental buscado pelo realizador. É exemplar,
nesse sentido, a interpretação do casal Minguet, vivida por uma dupla casada na
vida real e não menos que comovente o momento em que a Senhora Minguet declara
seu amor ao marido sentado no colo do mesmo, para os dois garotos surpresos.
Seu estilo ascético, inclusive no modo de conduzir o elenco, e sua tentativa de
expressar valores transcendentes como o amor e a sensibilidade através de
personagens marginalizados, cruéis e isentos de qualquer atributo
extraordinário, por sua vez, remete a influência de Bresson. Quanto a evidente
relação com a obra de Truffaut, ela se encontra igualmente presente através do
próprio nome do protagonista e pelo fato do cineasta ter sido um dos produtores
do filme. Athos Film/Les
Films du Carrouse/Parc Film/Renn Productions/Stéphan Films. 83
minutos.
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