O Dicionário Biográfico do Cinema#61: Robert Evans
Robert Evans (Robert Shapera), n. Nova York, 1930*
Por um momento, Evans foi banhado na lavagem da mídia de ser o perfeito novo produtor. Seu sorriso portava o nada tímido auto-amor de um homem vendo seu próprio deslumbramento no espelho. Mas, os momentos passam. Após sete anos encarregado da produção da Paramount (1967-1973), ele moveu-se para a independência que avaliava merecer. Sua primeira ousadia foi Chinatown (74, Roman Polanski), um golpe de produtor em termos de manter juntos elementos incompatíveis o tempo suficiente para vendas altas e boa acolhida crítica.
Depois disso, o toque mágico o abandonou e lhe legou dois bastardos nas bilheterias: Marathon Man [Maratona da Morte] (76, John Schlesinger) e Black Sunday [Domingo Negro] (77, John Frankenheimer). Eles não foram piores ou mais tolos que filmes que emergiram poucos anos antes. Mas produtores vivem a partir da invisível e escassamente previsível regra do que o público consumirá. Todo o trabalho árduo, fé e crueldade que seus sobreviventes atribuem a um produtor são ar se o seu remédio não vender. Evans possui charme e nenhum temor de planejamentos exaustivos: quatro casamentos e quatro divórcios não o detiveram da companhia de belas mulheres, e ele possuía o amor juvenil pelos filmes que ainda guardam todos os produtores de vida longa.
Possuindo uma face jovem, como se o estrelato emergisse de sua ardente expressão. Enquanto criança, em Nova York, trabalhou como ator de rádio à noite. O esforço excessivo o alcançou: um pulmão colapsou, deixando a intensidade febril de um inválido reestabelecido. Convalesceu por um ano e então recuperou-se para ser o diretor de vendas de uma firma de artigos esportivos que seu irmão ajudara a criar.
Vender tênis e pulseiras esportivas ensinou-lhe o rumo dos negócios e o fez rico. Então, em 1956, em Beverly Hills, encontrou Norma Shearer, e ela ficou tão impressionada por ele que o levou para uma ponta em Man of a Thousand Faces [O Homem das Mil Caras] (57, Joseph Pevney). Era bonito, mas não um ator. Ainda assim, teve diversos outros papéis: o matador em The Sun Also Raises [E Agora Brilha o Sol] (57, Henry King); o odioso assassino em The Fiend Who Walked the West [O Terror do Oeste] (58, Gordon Douglas); e The Best of Everything [Sob o Signo do Sexo] (59, Jean Negulesco).
Nunca os fez como astro e voltou a ser um vendedor ambulante de roupas esportivas. Quando a companhia foi vendida a Revlon, a fatia de Evans o tornou milionário. Voltou então a Hollywood com o desejo de produzir e com meios para tanto. A Fox o contratou e ele organizou um filme lá - The Detective [A Lei é para Todos] (Douglas, 65) - antes de aceitar o convite da Paramount.
Diz muito do glamour de Evans e da tenra idade dos distintos executivos de produção que o estúdio lhe tenha dado poder com tão pouca estrada. Seu período na Paramount iniciou incerto, mas ele rapidamente atingiu um platô de sucesso que ajudou a revitalizar a companhia. The Godfather [O Poderoso Chefão] parece inquebrantável agora, mas foi cercado de dúvidas prévias, contra as quais Evans deu o trabalho de direção para o já problemático Coppola. Outros filmes que produziu incluem: The Molly Maguires [Ver-te-ei no Inferno] (68, Martin Ritt); Rosemary's Baby [O Bebê de Rosemary] (68, Polanski); Romeo and Juliet [Romeu e Julieta] (68, Franco Zefirelli); Paint Your Wagon [Os Aventureiros do Ouro] (69, Joshua Logan); Goodbye, Columbus [Paixão de Primavera] (69, Larry Peerce); Darling Lili [Lili, Minha Adorável Espiã] (70, Blake Edwards); Catch-22 [Ardil 22] (70, Mike Nichols), e Love Story (70, Arthur Hiller). Esse último e Paixão de Primavera estrelados por Ali McGraw, terceira esposa de Evans (as outras foram Sharon Huegeny, Camilla Sparv e Phyllis George). Love Story foi um grande sucesso, inesperado para todas as pessoas que duvidavam da boa vontade de uma sociedade cínica e permissiva para um sensível romance. Evans adivinhou aquela suavidade escondida e também apoiou a dureza maior de O Poderoso Chefão. Tal versatilidade prometia que retornaria com certas coisas que não se resistiria.
Eu desejei - ele desejou. Após Maratona da Morte e Domingo Negro tem tido desastres, sob influência de drogas e também sob suspeita em vários escândalos, assim como vinculado a um notório caso de assassinato. Foi o produtor de Players [Amor em Jogo] (79, Anthony Harvey), Popeye (80, Robert Altman) e The Cotton Club [Cotton Club] (84, Coppola), e sua própria confusão não ajudou nesse filme desapontador. Foi pensado não apenas como produtor de The Two Jakes [A Chave do Enigma], mas também como ator que interpretaria Jake Berman. Suas inseguranças paralisaram a primeira tentativa de Robert Towne de filmar seu próprio roteiro, e Evans foi nomeado produtor apenas quando o filme estava finalmente realizado, em 1990, sob direção de Jack Nicholson.
Portanto, Evans é uma vítima muito notável. Mas em todas as fases de caos e aflição, permaneceu um aspirante a ator, fazendo um grande espetáculo. Por exemplo, tão tardiamente quanto 1982, Robert Towne escreveu dele: "Bob Evans permanece, na memória e na vida, um padrão para todo tipo de generosidade humana, e alguém que ainda precisa ser igualado nessa cidade."
Evidentemente, isso foi dito antes de Evans ganhar o crédito como produtor e apoiar um velho amigo contra o outro em A Chave do Enigma (90, Jack Nicholson). Desde então, Evans tem seu nome associado a um punhado de filmes somente - Sliver [Invasão de Privacidade] (93, Phillip Noyce); Jade (95, William Friedkin); The Phantom [O Fantasma] (96, Simon Wincer); The Saint [O Santo] (97, Noyce); The Out-of-Towners [Perdidos em Nova York) (99, Sam Weisman). Que tudo isso seja ruim é apenas um sinal do relaxamento geral de Evans - o que é bom para ele. Como é muito amplamente confirmado em suas memórias muito curtas, The Kid Stays in the Picture. Tão longe permaneça uma criança! Atuou em The Girl from Nagasaki (13, Michael Comte e Ayako Oshida).
Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. Nova York: Alfred A. Knopf, 2014, pp. 826-8.
* Evans morreu em 2019.
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